Hoje, a Easyjet começou a voar de Lisboa para Ponta Delgada. E a 1 de Abril, na quarta-feira, também a Ryanair estreará as suas ligações para São Miguel. As novas ligações serão um forte contributo para o aumento de passageiros que se espera no aeroporto João Paulo II.
Contactadas pelo SOL, as duas low cost mostram-se satisfeitas com a procura. “A Easyjet opera os seus voos com uma taxa de ocupação média que ronda os 90% e a rota Lisboa-Ponta Delgada não foge à regra. Tendo em conta que começámos a disponibilizar os voos no site desde o anúncio oficial, a 10 de Dezembro, os resultados são bastante positivos”, frisa o director comercial para Portugal, José Lopes. A companhia britânica terá três frequências semanais (e uma quarta a partir de Junho) e já “há alguns voos esgotados”.
A Ryanair – que instalará uma base com um avião em Ponta Delgada, a quarta em território nacional – terá 20 voos semanais com partida de Lisboa, Porto e Stansted. E espera gerar um tráfego de 350 mil clientes por ano, além de 350 empregos. “Estamos muitos satisfeitos com as vendas já realizadas nestas novas rotas, que já se tornaram extremamente populares”, assegura fonte oficial, sem quantificar taxas de ocupação.
Preços baixos, mais procura
No arquipélago, a convicção dos agentes ligados ao turismo é que a liberalização do espaço aéreo de Ponta Delgada e da Terceira – que permitiu a entrada de novos operadores – vai estimular muitos portugueses a conhecer os Açores, atraídos pela maior oferta e baixa de preços. Depois, chegarão também mais estrangeiros, à boleia da promoção que estas companhias aéreas farão do destino e da notoriedade que conquistará.
“É a maior reforma de sempre nas acessibilidades na região”, defende o secretário regional do Turismo e Transportes, Vítor Fraga. “Nas tarifas de acesso à região, há uma redução muito significativa, chegando a atingir valores inferiores a um terço face aos que eram praticados há seis ou sete meses”, sublinha.
Para responder às low cost, também a TAP e a Sata ajustaram a sua oferta. A partir de domingo, a TAP passará a ter ligações diárias para a capital de São Miguel e para a Terceira. E partilhará voos com a Sata, que continuará a fazer as ligações também às restantes ilhas. Quantos aos preços das rotas liberalizadas, passam a obedecer às condições de mercado, sem estarem sujeitos às obrigações de serviço público.
Segundo dados da ANA até meados de Fevereiro, os preços mais agressivos lançados por estas duas companhias fizeram crescer em 22% o movimento de passageiros para os Açores.
Reservas sobem mais de 20%
Também a hotelaria tem tido um acréscimo das reservas feitas directamente nos hotéis. “O aumento é entre os 20% e 25%. Acredito que tenha muito que ver com a chegada das low cost”, contabiliza o delegado da Associação da Hotelaria de Portugal nos Açores, Humberto Pavão. A procura é sobretudo de portugueses.
“Pensamos que vai aparecer um novo nicho de mercado, de pessoas que, para aproveitarem a tarifa mais barata, vêm sem a bagagem de porão e ficam dois ou três dias na região” – os chamados short breaks. Depois, acredita o responsável, surgirá o interesse em conhecer outras ilhas além de São Miguel.
“Estamos a prever um crescimento para este ano, principalmente em São Miguel”, concorda Marta Sousa Pires, administradora executiva da Bensaude Hotels, que tem seis unidades no arquipélago. “A liberalização do espaço aéreo, especificamente a entrada de duas low cost, e o reforço do número de voos da TAP para São Miguel, cria uma nova notoriedade do destino”, antecipa.
Com mais acessibilidades aéreas, chegarão mais turistas, contribuindo para elevar o número de dormidas – cerca de um milhão em 2014, apenas 0,9% mais do que em 2013, o menor aumento no país – e as receitas hoteleiras nos Açores.
Para esta Páscoa, a primeira depois da liberalização, os hotéis estão com 70% a 85% de ocupação, “relativamente igual aos anos anteriores”, indica Humberto Pavão. Mas também faz questão de sublinhar que apesar da operação das low cost, os hoteleiros da região “estão expectantes, mas não com grandes euforias”. “O turismo nos Açores é uma maratona. Não é uma corrida de 100 metros”, compara.
Investidores atentos
Ainda assim, já se verifica interesse em avançar com novos investimentos em alojamento. Por exemplo, há diversos planos para abrir hostels, sobretudo em São Miguel. E há também várias inaugurações de hotéis na calha.
“Existem mais de 1.800 novas camas turísticas com pedido de aprovação prévia na Direcção Regional de Turismo. O aumento da oferta hoteleira vai reflectir-se em mais emprego”, revela Vítor Fraga.
“O incremento na captação de fluxos turísticos vai ter impacto noutros sectores de actividade que tenham relação directa ou indirecta com o sector, como a agro-pecuária, as pescas ou a indústria dos serviços”, resume.
ana.serafim@sol.pt