Perante a hipótese de uma crise de liquidez, o Governo grego pediu ao Banco Central Europeu 900 milhões de financiamento de emergência aos bancos, um valor que numa primeira instância foi recusado, mas a fazer fé no Financial Times o BCE autorizou o Banco central helénico a prover o sistema bancário até 1,5 mil milhões, o que indica que a entidade presidida por Mario Draghi abriu os cordões à bolsa.
Mas os problemas do Executivo grego são maiores e mais urgentes do que os depauperados bancos. São os cofres do Estado que estão na penúria e o país pode entrar em incumprimento muito em breve. Até dia 9 de Abril, entre salários, pensões, pagamentos da dívida pública e ao Fundo Monetário Internacional, Atenas tem de despender mais de 3,3 mil milhões de euros. Um valor de que não dispõe.
Esse problema de “liquidez temporária”, como reconheceu Tsipras em carta enviada a Angela Merkel antes da visita que efectuou nesta segunda-feira a Berlim, é o mais recente capítulo da crise da zona euro. Prova das dificuldades em que vive, o Governo recolheu 600 milhões de euros dos cofres das empresas públicas e pediu de volta 1,2 mil milhões de euros que tinham sido emprestados em 2012 e nunca usados.
Este sociodrama pode terminar se os restantes países do Eurogrupo aprovarem em tempo útil a famosa lista de reformas que o Governo Syriza/Independentes Gregos ficou de entregar. Dessa aprovação depende a entrega da última fatia do programa de resgate, 7,2 mil milhões. E também dependem da aprovação dos técnicos da troika, ou como agora se diz, das instituições.
Uma outra hipótese, aventada pelo histórico político do Syriza Manolis Glezos em entrevista ao El País, é uma moratória de um ano à dívida grega, juros incluídos, para se poder negociar e iniciar as reformas. O eurodeputado de 93 anos, crítico de Varoufakis, acredita que Tsipras acabará por fazer esta proposta.
Não se sabe se o primeiro-ministro abordou esse tema com a chanceler alemã. O encontro serviu, em primeiro lugar, para a normalização das relações entre os dois países, após várias declarações inflamadas de políticos.
O ministro da Defesa Panos Kammenos ameaçou abrir as fronteiras a “milhões de imigrantes” e o ministro da Justiça Nikos Paraskevopoulos encarou a hipótese de se apropriar de propriedades alemãs em território grego (o Goethe Institut, por exemplo) como compensação pelas atrocidades cometidas pelos nazis durante a II Guerra Mundial.
A visita a Berlim tinha também como objectivo que Tsipras recebesse o apoio da líder europeia, mas Merkel, prudente, só disse que a Alemanha é apenas um dos países da zona euro e que o problema da dívida não é um assunto bilateral.
BCE admite todos os cenários
Perante o cenário de bancarrota, a saída da Grécia da zona euro – nunca admitida em termos oficiais – volta a ser debatida. Ao termo Grexit foi agora cunhado um outro, Grexident (saída por acidente da Grécia).
O presidente do BCE criticou na segunda-feira o ministro das Finanças grego Yanis Varoufakis por falar com frequência em “incumprimento e insolvência” e deixou no ar uma frase incomum: “O BCE tem gestores de risco que avaliam constantemente todas as hipóteses possíveis”.
Na quinta-feira, em artigo de opinião no Financial Times, o economista Mohamed El-Erian apelou para que o Governo helénico crie um plano B, caso tudo corra pelo pior no cenário actual.