São, no entanto, os meios de comunicação – alguns que se acham tão intelectualmente impolutos e evoluídos – a dar palco a quem nunca entrou sequer num teatro. E a necessidade dos realmente importantes se resguardarem e de não se darem às objectivas que hoje em dia cabem num bolso de umas calças ou casaco tornou a imprensa mais sensacionalista ávida de novos protagonistas com a necessidade de mostrar, expor e transformar – qual marioneta – vidas de pessoas dispostas a tudo pela 'fama', usando-as e posteriormente descartando-as à mesma velocidade e criando através disso depressões e estados suicidas pela falta de capacidade desta gente em lidar com o fechar da cortina. É isso, aliás, que retrata o filme de Woody Allen, To Rome with Love. Aquilo que considero é que foi essa excessiva impetuosidade da imprensa que fez com que alguma loucura do passado deixasse de ser possível e com ela foi-se também a magia da noite. Como aquela frase que diz: 'Matei todos os meus demónios e no mesmo instante morreram também os meus anjos'. Porque, no fundo, são inseparáveis.
É essa magia, sobretudo a do Studio 54 em que os VIP eram de facto os VIP num dos poucos espaços nocturnos onde estes sempre se puderam divertir sem preconceitos, que está retratada no imperdível livro de fotografias Fotógrafo das Mil Noites, do sueco Hasse Person, que se habituou a fotografar estes famosos que se aglutinavam no mesmo espaço de Nova Iorque, como Truman Capote, Andy Warhol, Diana Ross, Halston, Michael Jackson, entre outros. A forma como se despediu o lendário proprietário Steve Rubbell – que conseguiu pôr em prática o espaço mais procurado e ao mesmo tempo mais inacessível do mundo na altura é a demonstração da magia que por ali se vivia e da loucura do mesmo. Antes de ser preso por evasão fiscal após ter dito que o seu negócio era mais rentável que a máfia, realizou uma última festa sob o tema 'Os Últimos Dias da Gomorra Moderna'. No fim, saiu algemado e entrou no carro da polícia a assobiar 'I Did It My Way', de Sinatra. E fez mesmo!