Morreu Günter Grass

O escritor alemão Günter Grass morreu esta segunda-feira, aos 87 anos, num hospital da cidade de Lubeck, no norte da Alemanha.

Morreu Günter Grass

Foi a sua editora, a Steidl, que anunciou a morte do vencedor do Prémio Nobel da Literatura em 1999. 

Grass nasceu na cidade de Gdansk – agora pertencente à Polónia, mas sob o domínio alemão, com o nome de Danzig, na altura do nascimento do escritor. 

O seu primeiro romance foi O Tambor, escrito em Paris e publicado em 1959. Este livro deu-lhe a notoriedade internacional, integrando a chamada Trilogia de Danzig e da qual fazem ainda parte O Gato e o Rato e O Cão de Hitler.

Além de escritor, Günter Grass foi também pintor e escultor, tendo ainda tido uma intensa participação política. Nos anos 60, apoiou os social-democratas alemães do SPD e o seu líder  histórico Willy Brandt e defendeu uma Alemanha "livre do fanatismo e de ideologias totalitárias" como se lê na sua biografia no site dos prémios Nobel.  

A polémica em torno do seu nome chegou em 2006, quando lançou Descascando A Cebola (obra que seria editada em Portugal no ano seguinte, pela Casa das Letras). Uma autobiografia em que recorda os anos entre 1939 e 1959, a dureza e crueza da II Guerra e afirma ter pertencido às SS na juventude, facto até então desconhecido. 

“Descascando a Cebola é a tentativa de redescobrir um jovem que hoje me é estranho e de questionar o meu comportamento em determinadas situações”, nas palavras de Grass. “Não sabia nada dos crimes de guerra que mais tarde vieram à luz" adiantou, acrescentando que a sua "ignorância não pode ocultar a consciência de haver estado integrado num sistema que planificou, organizou e executou o extermínio de milhões de pessoas”.

Descascando a Cebola faz também parte de uma trilogia, com A Caixa (editada pela Casa das Letras em 2009) e Grimms Wörter (As Palavras de Grimm, não publicado em Portugal).

A polémica avolumar-se-ia em 2012, quando lança um poema crítico para Israel. Em Was gesagt werden muss (O que há para dizer, em português), publicado no jornal alemão Süddeutsche Zeitung, o escritor acusa Israel de pôr em causa a paz mundial por ter a capacidade de fabricar bombas atómicas e ter admitido atacar preventivamente instalações nucleares do Irão. Israel declara-o persona non grata e proíbe-o de entrar no país.

No mesmo ano escreve outro poema – também no Süddeutsche Zeitung – que encheu páginas de jornais, desta vez criticando a política da Alemanha e da União Europeia em relação à Grécia. Grass escreveu contra a forma como os governos europeus e os mercados financeiros estavam a destruir o país e a sua história.

Da biografia de Grass consta a prisão pelos norte-americanos no final da II Guerra, entre 1944 e 1946, o trabalho agrícola e mineiro, o estudo de arte em Dusseldorf e Berlim e depois a ida para Paris, onde arrancou publicamente a sua carreira literária.

Enquanto pintor, expôs em Portugal, mais exactamente no já encerrado Centro Cultural de São Lourenço, em Almancil. O escritor era amigo do casal franco-alemão que criou o Centro: Marie Huber e Volker.

teresa.oliveira@sol.pt