Marinho Pinto, se for eleito pelo seu PDR, vai sentar-se entre o PSD e o CDS ou entre o PCP e o PS? Joana Amaral Dias, que tenta regressar a São Bento pelas mãos do PTP, quererá ficar à esquerda do BE? O exercício, dizem as candidaturas contactadas pelo SOL, é indesejado na medida em que seria admitir o rótulo que querem evitar até às eleições.
Para Nuno Ramos de Almeida, do movimento Agir, “o importante é sentar na AR as pessoas que estão fora da AR, ou seja, que não estão representadas no figurino actual e que são contra os protagonistas tanto de direita como de esquerda”. Joana Amaral Dias, ex-dirigente do BE, é a fundadora deste movimento que vai a votos coligado com o PTP e será a cabeça-de-lista por Lisboa. Na hora de situar a sua candidatura, evita recorrer às tradicionais balizas, apesar do seu posicionamento à esquerda. A prioridade, diz, são as propostas para o combate à austeridade e à corrupção e, com isso, uma nova forma de fazer política a partir do velho hemiciclo. Só por aí não é difícil adivinhar que, a ser eleita, Amaral Dias pode voltar a uma ala do hemiciclo que bem conhece: ao lado do BE e do PCP.
“Até pode ser por sorteio”, afasta Ramos de Almeida, co-fundador do Agir, que fará o seu primeiro comício no início de Maio, em Lisboa, depois de apresentadas novas caras do movimento. Os promotores do Agir acreditam num bom resultado, não obstante ser desconhecida a avaliação dos portugueses ao novo projecto político e as intenções de voto que consegue somar.
Ocupar as cadeiras do PS
Marinho Pinto, pelo contrário, já vê a sua proposta política avaliada nas sondagens: no barómetro de Março da Eurosondagem para o Expresso, o PDR somou 3% das intenções de voto. Nas reuniões que o têm levado a percorrer o país, o fundador do PDR é repetidamente confrontado com a pergunta: onde se vai sentar, se for eleito? O eurodeputado responde sempre com cautela: é indiferente a geografia das cadeiras.
Vieira da Cunha, membro da direcção do PDR, respeita o guião: “Somos um partido que não tem pudor em estar sentado em qualquer lado. O nosso resultado é que vai determinar onde nos vamos sentar”, frisa ao SOL.
O partido, legalizado em Fevereiro, tem-se posicionado como de centro-esquerda. O mesmo é dizer que irá tentar subtrair muitos votos à esquerda, mas sobretudo ao PS. Tantos votos que há quem acredite que Marinho e Pinto, que deverá ser cabeça-de-lista do seu partido em Coimbra, não se importava de afastar o PS para a direita e sentar os seus deputados nas cadeiras ocupadas pelo PS desde 2011.
Mas só a campanha dirá se vai repetir a proeza das europeias do ano passado, nas quais jogou com sucesso a sua força eleitoral individual. O pontapé de saída para a pré-campanha está marcado para dia 24 de Maio, no Fórum Lisboa, onde se realiza a primeira assembleia-geral do PDR, que irá eleger o Conselho Nacional.
Estreia com 'dissidentes'
Renegociar a dívida e responsabilizar o PS e o PSD pelo actual estado do país é outro denominador comuns destes novos partidos e que pode indiferenciar as siglas aos olhos dos eleitores.
Gil Garcia, dissidente do BE e dirigente do MAS (Movimento Alternativa Socialista), admite que possa ser considerado pelos seus pares como o mais radical de todos, à esquerda do PCP e do BE. “Acho um exagero, mas não escondemos que tentamos construir uma força de esquerda inspirada no Syriza ou no Podemos. Por isso, ficaríamos entre o BE e o PCP”, adianta.
O MAS estreia-se este ano em eleições legislativas, depois de concorrer às últimas europeias e às regionais na Madeira. Ao seu lado tem 'dissidentes' do Livre (Jorge Ferreira, José Cavalheiro e Nuno Cardoso da Silva), que bateram com a porta do partido fundado por Rui Tavares depois de este admitir que uma solução de esquerda inclui o PS.
A ideia de uma leitura inteligente do Tratado Orçamental e a recusa em pedir a renegociação da dívida sem atender à conjuntura macro-económica que se verificar quando o novo governo tomar posse afastam o Livre/Tempo de Avançar (coligação com o Fórum Manifesto, de Ana Drago) da ala do PCP e do BE e aproximam-no do PS.
Rui Tavares, ex-eurodeputado do BE, bem pode fazer o contrário de Francisco Louçã: em 1999, ano de estreia do BE no Parlamento, o então líder bloquista recusou sentar o seu partido ao lado do PS, exigindo ficar a seguir ao PCP e com acesso à primeira fila da bancada. Conseguiu. Antes, em 1991, Manuel Sérgio, teve menos sorte: quando chegou sozinho a São Bento, pelo Partido da Solidariedade Nacional, atribuíram-lhe uma cadeira entre o PSD e o CDS. “Contra a minha vontade. Preferia ter ficado ao lado do PCP”, disse em tempos numa entrevista ao SOL.
ricardo.rego@sol.pt