O correspondente britânico James Fletcher visitou o bairro da Cova da Moura, no concelho da Amadora, arredores de Lisboa, e falou com moradores que dizem recear as autoridades.
Jailza Sousa, de 29 anos, conta à BBC que o seu filho “está traumatizado” e tem medo que a mãe vá à varanda, onde receia que seja baleada. Esta moradora da Cova da Moura recorda os incidentes de 5 de Fevereiro. Nesse dia, escreve a BBC, Bruno, um jovem do bairro foi espancado por agentes da polícia. “O seu sangue manchou a parede e a rua durante vários dias”, lê-se. “Transeuntes protestaram, e a polícia reagiu com shotguns carregadas com balas de borracha”.
Durante os incidentes, Jailza foi atingida a tiro no peito e na anca. “Eles tratam-nos como animais”, afirma a morada. “É um bairro negro, eles tratam-nos como se estivéssemos aqui para ser exterminados”.
A BBC relata ainda os confrontos que se seguiram, quando dois membros da organização Moinho da Juventude, acompanhados por cinco jovens, se deslocaram até à esquadra da PSP para onde Bruno tinha sido levado.
“De repente, uns 15 ou 20 polícias apareceram com paus, com shotguns, e começaram a pontapear-nos e a esmurrar-nos, a tentar bater-nos com bastões”, conta Celso Lopes, um dos envolvidos, que foi atingido a tiro numa perna. Os jovens afirmam que as agressões foram acompanhadas de insultos racistas.
Segundo Flávio Almada, outro membro do Moinho da Juventude citado pela BBC, um agente terá dito “Não sabem quanto vos odeio. Se eu pudesse, exterminava-os”.
“O racismo está para além da polícia, é toda a sociedade, é um grande problema e não acredito que queiram mudar as coisas. Se derem a Portugal algum prémio por integrarem bem os imigrantes, é uma grande mentira”, afirma Almda.
Há quatro inquéritos em curso sobre estes incidentes, refere a BBC.
Estes insultos, alegam os moradores da Cova da Moura, são recorrentes. Whassysa Magalhães, uma professora que também colabora com o Moinho da Juventude, recorda à BBC o tratamento a que foi sujeita durante uma operação no bairro, quando um polícia lhe pediu os documentos.
“Era tarde e eu disse-lhe que tinha de ir para a universidade, e eles disseram ‘os negros estudam?’”, lembra. “Eles odeiam negros”, afirma.
Activistas citados pela BBC afirmam que 14 jovens negros foram mortos pela polícia portuguesa desde 2001.
A BBC afirma que tentou obter entrevistas com a ministra da Administração Interna e com o primeiro-ministro, mas que foram recusadas. Mais tarde, o MAI respondeu por escrito à radiotelevisão britânica, rejeitando a existência de racismo e violência por parte da PSP.