As celebrações iniciaram-se na tarde de quinta-feira com a canonização das vítimas, consideradas "mártires", durante uma cerimónia religiosa ao ar livre em Etchmiadzine, a cerca de 22 quilómetros da capital Erevan, presidida pelo chefe da Igreja arménia, o catholicos Karekin II.
A cerimónia solene foi celebrada na presença de restos mortais dos arménios e arménias que sucumbiram entre 1915 e 1923, agora reunidos num único ossário e num novo local de culto e peregrinação.
Para Ancara, a perda de tantas vidas inocentes e a expulsão das suas terras ancestrais foi um destino comum para as populações da região, cristãs ou muçulmanas, em tempos de crises, guerras e caos.
A questão arménia ganhou súbita actualidade na Turquia quando o jornalista turco-arménio Hrant Dink, redator do semanário Agos, colocou uma questão simples: "Havia um povo chamado Arménios que vivia nestas terras e que já cá não está. O que lhe aconteceu?".
Perseguido, depois processado, o jornalista acabou assassinado frente à sede do seu jornal em 2007 por um jovem extremista nacionalista turco. Mais de 100.000 pessoas assistiram ao seu funeral, e muitos se terão recordado de uma outra sua frase, quando se referiu a dois povos que estavam doentes: "Os arménios sofrem de traumatismo, e os turcos de paranóia…".
Os livros escolares turcos sempre prescindiam de mencionar o que tinha sucedido a este povo em 1915, oito anos antes da queda do império otomano e da fundação da República da Turquia por Mustafa Kemal Ataturk.
O actual Governo islamita-conservador, no poder desde 2002, reconhece que centenas de milhares de arménios morreram devido aos combates na Anatólia oriental e à política de deportações das autoridades otomanas, apesar de continuar a rejeitar o termo "genocídio".
Para as autoridades arménias, e diversos investigadores, a prisão e execução das elites intelectuais arménias de Istambul na noite de 24 para 25 de Abril de 1915, numa acção premeditada, assinala o início do genocídio. E sublinham que em apenas alguns meses dois terços dos arménios do Império otomano, cerca de 1,3 milhões de pessoas, desapareceram.
A versão oficial turca reduz a 500.000 o número habitualmente aceite de 1,5 milhões de arménios mortos entre 1915 e 1917, e insiste que foi resultado de uma violência étnica exercida em ambas as direcções.
A interpretação turca sublinha ainda a função dos grupos armados arménios que existiam no leste da Anatólia e que se aliaram ao exército russo no combate às forças otomanas.
Lusa/SOL