Despedimentos e TSU geram dúvidas

As propostas dos economistas para o mercado laboral e Segurança Social foram o foco das dúvidas dos socialistas. Alguns temem mesmo que as soluções encontradas possam dificultar as pontes à esquerda.

Os receios dos socialistas prendem-se fundamentalmente com dois pontos: a ideia de criar um “processo conciliatório” de despedimento para novos contratos – que está a ser encarado como uma facilitação aos despedimentos, embora as indemnizações aumentem para os trabalhadores – e os cortes nas pensões futuras para compensar a baixa na Taxa Social Única (TSU) para os trabalhadores.

E foram essas dúvidas que alguns socialistas dirigiram a António Costa durante a Comissão Política Nacional da noite de quarta-feira. Segundo relatos feitos ao SOL por socialistas presentes na reunião, o vice-presidente da bancada Pedro Nuno Santos questionou o aparente benefício dos patrões com a TSU, uma vez que a descida é temporária para os trabalhadores e permanente para as empresas.

Já o ex-dirigente de Seguro Eurico Brilhante Dias chamou a atenção para o risco destas medidas que, sendo positivas, “podem ser alvo de ataque cerrado à esquerda”. A baixa da TSU, envolvendo um novo tipo de financiamento da Segurança Social, e o subsídio aos trabalhadores mais pobres (transferindo indirectamente dinheiro para as empresas) devem ser bem explicadas, considerou o economista. “Tem de haver uma grande pedagogia porque se está a mexer em questões delicadas”, terá dito Brilhante Dias. Além disso, lembrou, a TSU traz uma “carga política” e por isso é preciso ter cuidado.

 

Mais fácil despedir

Ainda no mesmo coro de dúvidas, José Abraão, da UGT, avisou que com este “processo conciliatório” passa a ser mais fácil despedir, enquanto Maria do Rosário Gama, da Associação de Aposentados, Pensionistas e Reformados (Apre!) alertou para a possibilidade de as propostas induzirem a um aumento da idade da reforma e considerou que o abaixamento da TSU pode ser “perigoso” para a sustentabilidade da Segurança Social. O corte nas pensões também não foi pacífico. “Para quem pode querer coligar-se à esquerda são medidas que expõem fragilidades”, aponta ao SOL um socialista presente na reunião.

 O dirigente Álvaro Beleza, que faz parte da oposição interna, foi o último a falar para dizer que o PS não deve colocar o debate só na economia e finanças (temas em que a direita sai mais favorecida eleitoralmente) mas na saúde e educação.

António Costa tentou sempre explicar as dúvidas e os socialistas saíram animados. “Surgiu um novo calor. A apresentação destas medidas veio dar internamente um novo fôlego ao PS”, confessa o soarista Vítor Ramalho. O segurista António Galamba também concorda que os socialistas “saíram da reunião mais confortáveis por levar uma base para o combate político”, embora refira que se tem que combater “com afinco” os argumentos da direita, nomeadamente o “irrealismo” que tentam colar ao PS.

No dia seguinte, quinta-feira de manhã, Costa também esteve presente na habitual reunião do grupo parlamentar para explicar as medidas aos deputados. E passou ao ataque já em jeito de campanha: “A troika tem outro nome e outra composição: Paulo Portas, Passos Coelho e Cavaco Silva”.

 

Seguristas insistem em Proença para o CES

As eleições para o Conselho Económico e Social (CES) estão marcadas para 15 de Maio e os seguristas estão a fazer pressão junto do líder do PS para escolher o ex-secretário-geral da UGT João Proença, que não esteve presente na reunião do PS onde os socialistas levantaram dúvidas sobre as medidas que afectam o mercado laboral.

Os seguristas têm a garantia que o nome de Proença não será vetado mas o nome de Vítor Ramalho tem vindo a ganhar força, apoiado pela ala soarista.

 

*Com Manuel A. Magalhães

sonia.cerdeira@sol.pt