O carácter intervencionista da sua candidatura tinha sido uma das acusações dos socialistas mais críticos. “Não me resignarei perante a destruição do Estado Social”, disse ainda Nóvoa no lançamento da candidatura.
A quem lhe apontava o dedo por não ter experiência política, Nóvoa respondeu sem hesitações: “Não tenho filiação partidária e nunca exerci cargos políticos, no sentido estrito do termo. Este facto não me aumenta, nem me diminui, mas marca uma diferença”.
E aos que o acusavam de não ter noção das funções presidenciais, Nóvoa fez questão de frisar que ao longo da vida aprendeu a “fazer pontes e convergências com pessoas e instituições, promover o diálogo, arbitrar consensos, a aprofundas a cooperação, sempre num clima de confiança”, atirando com o currículo de ter sido o mediador na fusão das universidades [de Lisboa com a Técnica].
Mais: disse que “o Presidente não governa nem legisla” mas “tem um poder moderador e regulador” e, apesar de notar que não se deve apresentar com um programa de governo, tem a "obrigação de expor, com clareza, as suas ideias para Portugal, de dizer o que pensa sobre as grandes questões".
As críticas ao Governo também se fizeram ouvir: à “austeridade que tornou o país mais frágil, que trouxe a pobreza e a miséria de volta a muitas famílias (…) que criou mais desigualdades, que forçou a emigração, que aumentou a dívidas”. Críticas às políticas seguidas e que levam à desconfiança dos portugueses. “Que política é esta? Que depois da crise nos anuncia mais crise, uma crise crónica, que priva os cidadãos de futuro, que os faz desconfiar das instituições e da capacidade do Estado democrático para defender o bem público e o interesse colectivo”, completou Nóvoa.
Num discurso polvilhado de citações próximas aos valores do 25 de Abril – Sophia de Mello Breyner, Zeca Afonso e Sérgio Godinho –, o professor universitário anunciou que ainda vai apresentar uma carta de princípios para firmar um compromisso com os portugueses e apontou a valorização dos jovens como principal causa.
Deixou também duas promessas: que dará uma “atenção muito especial” às forças armadas e que o Presidente não vai abdicar da palavra que pode dar na mobilização para missões no estrangeiro; e que não permitirá “nunca” que o interesse nacional “seja dominado por grupos de pressão, por corporações ou por interesses ilegítimos”. “A ética republicana obriga-nos a colocar sempre o serviço público acima dos interesses particulares”, sublinhou.
Nóvoa disse, ainda, que será um Presidente “presente”, “junto das pessoas” e que andará de Norte a Sul e junto das comunidades emigrantes a ouvir para “poder agir”.
“Convosco, livre, quero habitar a substância deste tempo, que exige um Presidente de causas, determinado, que não vira a cara às dificuldades”.
Por duas vezes disse que “não foi fácil a decisão” de se candidatar. Mas no final a energia que passou parecia deixar para trás essas dificuldades. “Vamos a isto?”, perguntou Nóvoa. “Vamos!” respondeu a Trindade em uníssono num coro de aplausos. E ouviu-se o hino nacional a encerrar a apresentação da candidatura de Nóvoa a Belém.
O vídeo do discurso na íntegra: