Na quarta-feira, o presidente do Instituto Português do Sangue e da Transplantação (IPST), Hélder Trindade, disse na Comissão Parlamentar de Saúde que ser homem e ter tido sexo com outros homens é factor de exclusão para a dádiva de sangue, acrescentando que só admite dadores gays se eles estiverem em fase de abstinência sexual.
Na sequência das declarações, a associação Rumos Novos — Homossexuais Católicos diz que questionou hoje o responsável do IPST sobre a "situação em que se encontram os casais masculinos estáveis, leia-se em fidelidade conjugal", apontando que estas pessoas não correspondem "à sigla preconceituosa de 'homens que têm sexo com homens'".
"Não podemos deixar de lamentar que a ideia passada pelo Presidente do IPST se afaste daquilo que é o verdadeiro conhecimento científico e se aproxime mais das posições mais retrógradas e conservadoras de alguma hierarquia religiosa católica", acusa a associação.
Na opinião dos Homossexuais Católicos, a haver um maior risco entre as pessoas com comportamentos de risco, sejam eles homossexuais ou não, a solução não passa pela interdição da dádiva de sangue, mas antes pelo aumento do controlo da qualidade das dádivas.
Sublinha que a opção pela interdição da dádiva tem como consequência o convite à mentira, o que poderá provocar "um baixar de guardas no controlo final sobre a qualidade do sangue".
Especificamente em relação à questão da abstinência, a associação refere que essa "tese" faz lembrar "algumas posições católicas conservadoras de que se 'acolhe o pecador, mas não o pecado', ou mesmo aquelas do Catecismo da Igreja Católica, onde os homossexuais são 'convidados' a uma vida casta".
Na comissão parlamentar, o presidente do IPST disse que o organismo não faz qualquer discriminação em função da orientação sexual, mas sim em função da prática sexual.
"O contacto sexual de homens com outros homens é definido como factor de risco", admitiu Hélder Trindade, sem contudo reconhecer tratar-se de preconceito como acusam os partidos da oposição.
Entretanto, o Bloco de Esquerda perguntou ao Governo se mantém a confiança política no presidente do IPST, enquanto os deputados do Partido Comunista no Parlamento Europeu enviaram uma pergunta à Comissão Europeia sobre a discriminação dos homossexuais nas doações de sangue.
Lusa/SOL