O bloco de Catarina também é de Mariana

Passaram 150 dias desde que Catarina Martins, porta-voz do BE, sucedeu a Catarina Martins, co-líder dos bloquistas com João Semedo até à Convenção de Novembro. A disputa interna – depois do avanço de Luís Fazenda, Pedro Filipe Soares e da UDP no último conclave, com uma moção própria – parece suspensa e as diversas correntes…

A coordenação do BE está entregue a uma comissão permanente de seis dirigentes, composta a partir das moções mais votadas na Convenção, mas Catarina Martins é a ‘cara’ do BE e quem assume as funções de liderança.

No barómetro de Abril da Eurosondagem para o Expresso, é a líder partidária que mais sobe na popularidade: 3,3%. “Ela fez um esforço no sentido de melhorar a sua postura: tem um discurso menos retórico, menos enfatizado e aproximou-se das pessoas”, explica um dirigente do BE ao SOL.

Os problemas da liderança bicéfala estão ultrapassados. “A diferença está no modelo”, frisa outro dirigente. “Catarina Martins é agora o único rosto do BE nos debates quinzenais com o primeiro-ministro e isso é importante para a percepção pública que se tem sobre a liderança do partido. Ela é hoje indiscutivelmente mais conhecida na rua”, acrescenta o mesmo dirigente.

A notoriedade crescente sente-se nas ruas e nos noticiários. Catarina Martins tem andado pelo país, sobretudo ao fim-de-semana, em acções populares organizadas pelas estruturas locais do Bloco, como a que a juntou recentemente a Pedro Filipe Soares em Espinho, numa acção de rua contra o Tratado Orçamental. Em São Bento, de resto, o protagonismo é partilhado com o líder parlamentar dos bloquistas.

Os dois M: Madeira e Mariana

A popularidade da porta-voz cresceu, mas entretanto uma nova estrela despontou no BE. Mariana Mortágua, que se destacou na comissão parlamentar de inquérito ao colapso do BES e do GES, ajudou Catarina Martins a conservar, cinco meses depois de assumir as novas funções, o estado de graça, dentro e fora do partido.

“O BE está hoje entre a Mariana, para o eleitorado urbano, e a Catarina, que começa a crescer num segmento da população que podia votar Marinho Pinto”, explica um ex-dirigente bloquista.

A isto soma-se o resultado na Madeira, e logo com a eleição de dois deputados, depois de ter perdido a representação parlamentar há quatro anos. É a primeira vitória com o actual modelo de liderança, após uma série de derrotas que começou nas legislativas de 2009 e passou pelas regionais da Madeira no mesmo ano, pelas autárquicas e pelas europeias. “O período que o BE está a passar é favorável e a Catarina beneficia do resultado na Madeira e do ‘efeito Mariana’. Mas as coisas também estão mais consensualizadas entre as duas moções mais votadas e isso ajuda”, resume um destacado militante do partido.

A proliferação de candidaturas à esquerda – sobretudo as que são protagonizadas por ex-dirigentes e militantes do BE – também pode explicar a recuperação que começa a ser percepcionada na Rua da Palma, onde o BE tem a sua sede.

O partido Livre, que integra agora a candidatura Livre/Tempo de Avançar, deixou de assustar. “O falhanço das propostas de pessoas que já passaram pelo BE vai levar o eleitorado a perceber que o BE tem consistência”, acredita o mesmo militante. “Esses fenómenos, que revelam falta de credibilidade, vão levar o eleitorado a confiar de novo no BE”, acrescenta.

Liderar em desequilíbrio

O teste decisivo de Catarina Martins são as legislativas. A expectativa é a de que o BE consiga, pelo menos, manter os oito mandatos de há quatro anos. A próxima convenção, em 2016, fará o julgamento da actual direcção, depois do escrutínio dos portugueses.

Mas a divisão que saiu do conclave tirou peso à tendência de Catarina Martins. O novo xadrez político do BE obriga a equilíbrios, sobretudo na Comissão Política, onde se define a política do partido e onde se sentam quatro diferentes sensibilidades. “A Catarina está numa posição em que não pode ter desencontros com a moção de Fazenda, mesmo que aqui e ali se notem alguns focos de tensão. Mas nota-se que ela tenta distanciar-se dos grupos que se organizam internamente e que não correspondem ao que saiu da Convenção”, nota um ex-dirigente.

De resto, a agenda e os discursos da dirigente resultam de decisão colectiva: são genericamente concertados na Comissão Permanente, de que faz parte Soares e que reúne todas as semanas, para agilizar as decisões tomadas na reunião quinzenal da Comissão Política. As reacções do partido às matérias mais importantes são, por norma, partilhadas com o líder parlamentar antes da porta-voz falar em nome do partido.

ricardo.rego@sol.pt