Abençoadas crianças

Pela segunda vez foi organizado em Espanha um campeonato para jovens empreendedores. A iniciativa da Junior Achievement pretende estimular os adolescentes a ter ideias com objectivos práticos imediatos. Por exemplo, este ano o terceiro prémio foi ganho por alunos do liceu Enrique Tierno Galván, de Madrid. O projecto consiste num encosto para as cadeiras da…

Problemas muito modernos

Sofia Vergara, actriz da excelente série Uma Família Muito Moderna, foi processada pelo ex-namorado, Nick Loeb, por causa de dois embriões femininos. A criação dos embriões foi realizada durante o noivado, que não chegou a casamento. Por razões pouco claras, a separação não foi tida em conta na hora de assinar um contrato de responsabilidade em relação aos embriões, que só seriam destruídos em caso de morte. Acontece que Nick Loeb é pró-vida e quer preservá-los. Vergara quer destruí-los. Uma investigação do Daily Beast aponta para a hipótese de Sofia Vergara ganhar a acção em tribunal. Embriões não são pessoas, mas vida em potência, e são tratados juridicamente como propriedade. No caso de não haver acordo, as possibilidades de serem destruídos são grandes. Se um não quer, dois não brigam. Mas já houve casos em que casais separados acordaram em dar os embriões a quem os queria. Estarei atenta aos próximos episódios desta história complicada.

Beleza real

Não é suficiente expressar um incómodo com a ideia de 'beleza real'. Há que tentar explicar a natureza do incómodo. Não me incomoda que seja um negócio nem uma moda. O incómodo não está em usar raparigas 'normais' em anúncios que antes eram povoados por raparigas 'perfeitas'. Com a substituição, as marcas pretendem afirmar que o seu produto é dirigido a todas as raparigas e não, como antes, vender o sonho inconfessado de se tornarem assim porque usam o mesmo sabonete. O problema é mesmo achar que mulheres muito bonitas e naturalmente magras não são 'reais' como outras mulheres que devem menos à beleza. Este pensamento tem a consequência perversa de fazer com que muita gente acredite que certas pessoas simplesmente não existem. E se não existem, porque precisamente são 'irreais', então não há nada nem de mau nem de bom que lhes possa acontecer. É este realmente o problema: a 'beleza real' é um logro que desumaniza. Recomendo cuidado a usar.

Desligados

Iain McGilchrist, psiquiatra e escritor, afirmou ao Telegraph que os smartphones e os tablets estão a afectar a capacidade de as crianças lerem expressões faciais e terem empatia pelo próximo. McGilchrist referiu estudos realizados nos Estados Unidos com resultados que apontam para um aumento no narcisismo infantil e pré-adolescente e um decréscimo preocupante dos níveis de empatia e ligação com o próximo. A insistência em apontar os culpados modernos que ocupam a maior parte do tempo dos miúdos (e não só, mas os adultos não contam) também é comum, mas não convence completamente. O que o argumento sugere é que a socialização – ou olharmos para as caras uns dos outros – é um bom treino para percebermos o que se passa com os outros. Talvez os objectos tenham culpa no cartório. Mas o argumento já foi usado de alguma maneira com a televisão. E teremos alguma vez sido mais empáticos ou temos a ideia romântica de uma humanidade que nunca existiu?

A biblioteca de Pina Martins

A exposição intitulada Uma Biblioteca Humanista, que inclui obras da biblioteca de José Vitorino de Pina Martins, filólogo português e bibliófilo extraordinário, está patente na Fundação Calouste Gulbenkian até 26 de Maio. Várias informações biográficas sobre Pina Martins estão escritas nas paredes da exposição, interrompidas com breves citações do próprio sobre os livros que chegavam até às suas mãos porque os amava e desejava. Esta ideia quase mágica sobre os objectos que vêm ter connosco só é possível num determinado contexto, nomeadamente de coleccionadores, que andam à procura, que estão presentes no meio, à espera do que mais querem ter. Alguns demoraram décadas a chegar, outros foram trocados, mas todos fizeram parte da vida deste homem apaixonado pelos livros, pelas ilustrações, pela biblioteca que criou. Saí da exposição deliciada e envergonhada com a minha brutalidade com os livros. Só me interessa ler, o que pode ser pouco.