“Ao contrário do que o Governo quer fazer parecer, a nossa greve foi muito eficaz, não deve ser desvalorizada e não considero que tenha sido um fracasso. Por isso acredito que possa ser uma das linhas de acção que a Assembleia [de pilotos] poderá decidir”, afirmou hoje o dirigente do SPAC, Helder Santinhos.
Numa conferência de imprensa que tinha como objectivo explicar os motivos que levou o sindicato a convocar a paralisação, que cumpre hoje o oitavo dia, o responsável frisou que “o conflito [com a TAP] não está sanado”. E que numa próxima assembleia-geral do SPAC, a realizar após 10 de Maio, dia em que termina a greve, serão decididas novas formas de luta.
“Quem decide [sobre uma eventual nova greve] é a Assembleia-geral e não a direcção”, explicitou, indicando que a reunião “será convocada a seu tempo”.
“Mediante essa convocatória e mediante a deliberação da assembleia, os pilotos reunidos decidirão qual o tipo de luta que irão fazer. Posso garantir desde já que o conflito não está sanado e que os pilotos associados do SPAC não irão baixar os braços”, garantiu.
O dirigente do sindicato – que conta com cerca de 900 associados – valorizou ainda os efeitos do protesto. “Os pilotos demonstraram que mesmo numa situação bastante adversa como esta, em que tínhamos praticamente o país inteiro unido contra os pilotos, desde as forças da esquerda à direita, às centrais sindicais, conseguimos infligir um dano de 30 milhões na companhia e isso não deve ser desvalorizado pelo governo”.
Quanto às revindicações dos pilotos, o sindicato diz estar disponível “para negociar” o acordo de 1999. Helder Santinhos assume que os pilotos até podem abdicar de ficar com até 20% da companhia numa eventual privatização, desde que sejam recompensados por isso.
“Não podemos abdicar nem esquecer que esse acordo existiu e que houve uma decisão de um tribunal que atribuiu vencimentos, aumentos salariais, créditos laborais aos pilotos. Em 1999 abdicámos dos salários, das condições de trabalho em troca de um acordo. Agora, o governo vem dizer que o acordo não é válido. Se não fosse noutra situação, Seria quase qualificável como burla”, observou Helder Santinhos. E comparou: “É como se se tivesse comprado uma casa e se desse um sinal. Mas por qualquer motivo não lhe podem vender a casa e dizem que ficam com o sinal à mesma”. As compensações, detalhou, poderiam surgir através da capitalização de um fundo de pensões ou de reforços remuneratórios ou das condições de trabalho.
O SPAC reclama ainda o pagamento de diuturnidades, cortadas desde 2011, quando a empresa passar para as mãos de privados, o que representaria um custo de 6,5 milhões de euros, abaixo dos 30 milhões que a greve custará à companhia e pequeno face à facturação da TAP de 2 mil milhões de euros.
Seria “um custo salarial para o investidor privado”, enfatizou Helder Santinhos, considerando que sem a reposição desses valores “serão os trabalhadores a subsidiar a companhia”.