Os actuais deputados não poupariam algumas farpas aos libertadores capitães de Abril por não terem “detectado mais cedo os sinais de alarme” ou por não haverem “actuado de forma mais decidida” – como faz o relatório parlamentar sobre o BES em relação ao que chama “incapacidade do Banco de Portugal” e à actuação do seu governador, Carlos Costa, na melindrosa gestão do colapso do BES e do afastamento compulsivo da família Espírito Santo da liderança do banco.
Como se o mundo ficasse de repente às avessas, o relatório final da comissão preocupou-se mais em acentuar a suposta falta de eficácia da supervisão do Banco de Portugal e de Carlos Costa – que puseram fim às irregularidades e aos desmandos no Grupo Espírito Santo – do que em isolar as culpas de Ricardo Salgado e dos seus coniventes familiares.
É muito fácil analisar de fora e distribuir culpas a posteriori. Os deputados que, ao longo de anos a fio, nunca tiveram a ousadia de tocar, com um dedo que fosse, no imenso poder de Ricardo Salgado (o chamado DDT- Dono Disto Tudo) e do BES, têm agora a desfaçatez de culpabilizar Carlos Costa, o primeiro a revelar a coragem para enfrentar esse monstro intocável da finança e da sociedade portuguesa? É preciso muita lata.
Basta recordar a cumplicidade dos últimos governos do PS e do PSD/CDS, de José Sócrates e Durão Barroso, com a influência de Ricardo Salgado e os interesses do BES para perceber as culpas no cartório do establishment partidário. É bom lembrar isto a alguns talibãs da comissão de inquérito, como o socialista Pedro Nuno Santos, que insiste que “o Banco de Portugal detectou tarde, o Banco de Portugal desenhou uma estratégia que fracassou”. Não se esqueça, também, de culpar os capitães pelo atraso do 25 de Abril.