Aliança em ruínas

A linha de acção tem sido a mesma: onde quer que o autodenominado Estado Islâmico (EI) chegue, além de erguer a bandeira negra, destrói todos os símbolos que considera não islâmicos e de idolatria.

Tal como em 2001 os talibãs implodiram os budas de Bamiyan, outros fundamentalistas parecem divertir-se a exterminar o património cultural, riquíssimo na região entre os rios Tigre e Eufrates. No chamado berço da civilização, quis o destino que bárbaros não só queiram conquistar e dominar território para o propalado califado através de um reinado de terror: há que apagar todos os vestígios da civilização – mesmo o da islâmica. Além dos tesouros das sociedades pré-islâmicas, os jihadistas também têm destruído mesquitas, túmulos, templos e igrejas. Desde Junho de 2014, quando Mossul caiu às mãos do EI, que cerca de 30 edifícios religiosos foram alvo da ira do grupo terrorista. Tudo filmado e embrulhado na justificação de que seguem ordens do profeta, mas nada mais do que “uma forma de limpeza cultural”, lamentou a directora-geral da UNESCO, Irina Bokova. E também de contrabando. Peritos em antiguidades garantem à Associated Press que por trás do zelo fundamentalista esconde-se a venda de artefactos no mercado negro para financiar as actividades do grupo.

Desde quinta-feira que a cidade histórica de Palmira parece ter o destino traçado. Situada na província síria de Homs, foi palco de combates entre as tropas leais a Bashar al-Assad e as do EI. Antes da guerra, Palmira, a 'noiva do deserto', era visitada por milhares de turistas devido aos edifícios com colunas ao estilo romano e tesouros arqueológicos. Centenas de artefactos – garante Damasco – foram transportados para a capital. Mas as peças maiores e as ruínas estão à mercê.

Três capitais nas mãos do EI

As más notícias vêm também do Iraque. O Estado Islâmico conquistou Ramadi, a estratégica capital da província de Anbar, uma extensa região às portas de Bagdade que conta com uma refinaria. Um feito surpreendente, tanto mais se nos lembrarmos que existe uma coligação de 60 países contra o grupo terrorista. Mas no terreno só havia um exército – pelos vistos sem a preparação adequada – que tinha pela frente um grupo que se apoderou do armamento do exército iraquiano quando tomou Mossul e que usa bombistas suicidas como ponta-de-lança na entrada das cidades.

“A queda de Ramadi diz mais sobre o Governo iraquiano do que sobre a força do Estado Islâmico. Os Estados Unidos têm um aliado no Iraque que é muito fraco”, comentou ao Financial Times o especialista Kirk Sowell. Mais uma vez, a solução parece estar nas milícias xiitas, provenientes do Sul e do Irão. Teerão já se mostrou disposta a ajudar. Uma solução que não agrada a Washington nem às capitais sunitas, que temem mais a influência iraniana do que o terrorismo jihadista. Mas com Ramadi, já são três as cidades capitais de província nas mãos do EI. Além de Mossul, há Raqqa, na Síria.

No início de Setembro Barack Obama anunciara que os EUA iriam “enfraquecer e destruir” o Estado Islâmico. Está longe de suceder.

Tesouros destruídos

Nínive

As muralhas da cidade da então Mesopotâmia foram destruídas em Fevereiro

Mossul

Destruição de estátuas e artefactos assírios, sumérios e acádios, bem como de milhares de livros e manuscritos no museu

Nimrud

As ruínas da antiga cidade (denominada Cale na Bíblia) foram devastadas por bulldozers em Março

Hatra

Foi a capital do primeiro reino árabe. Resistiu a duas invasões romanas, mas acabou demolida em Março. Era património da Humanidade

cesar.avo@sol.pt