Os problemas que envolviam a família do homem que ontem foi libertado de um cativeiro de oito anos em Cascais já eram conhecidos das autoridades há vários anos. A situação foi denunciada ao Ministério Público pela Segurança Social em 2011 mas a queixa acabou por ser arquivada. Na sequência da descoberta do homem em cativeiro, que ocorreu na terça-feira de manhã, o Ministério Publico abriu um novo inquérito, avançou ao SOL, fonte oficial da Procuradoria-geral da República.
Também as autoridades policiais conheciam os desacatos constantes provocados pela mãe do homem sequestrado, uma mulher de 62 anos com sinais de perturbações mentais, e foram várias vezes chamadas ao local para resolver agressões e ameaças aos vizinhos.
Contudo, nunca suspeitaram que em casa desta família vivessem os dois filhos do casal, Ana e António, em condições degradantes, um dos quais enjaulado num quarto fechado com correntes, e apenas um colchão e um balde. Segundo contou ao SOL o comandante do sub-destacamento territorial da GNR de Alcabideche, Filipe Costa, os episódios eram sempre de pequena gravidade e não passavam de ameaças e pequenas agressões.
Ontem de manhã, na sequência de desacatos provocados pela matriarca da família, Maria Varela, a GNR de Alcabideche foi novamente chamada ao local para resolver um conflito entre esta e uns vizinhos. A mulher ainda resistiu à polícia, pois estava bastante perturbada, mas a GNR acabou por entrar em sua casa depois de ouvir uns grunhidos vindos do interior. Aí encontrou o filho do casal fechado num quarto, sem luz, sujo, e com um cheiro nauseabundo. Ao local foram chamados os bombeiros, as autoridades de saúde e a protecção civil.
Segurança Social sinalizou caso ao Ministério Público há quatro anos
A primeira sinalização do caso foi feita em 2011 pela Segurança Social que visitou a família e lhe propôs receber apoio social e cuidados de saúde. Mas nem Maria Varela, nem o marido aceitaram a ajuda proposta. Os técnicos que por várias vezes visitaram a família acabaram por desistir da intervenção pois eram constantemente ameaçados e insultados quando se dirigiam ao número 24 da Rua Nova da Ribeira, na Amoreira, em Cascais. Segundo afirmou ao SOL o Instituto da Segurança Social, o agregado familiar passou «a recusar a entrada das equipas da Segurança Social na sua habitação». Na sequência desta situação, a Segurança Social remeteu o caso para o Ministério Público. A Segurança Social não esclarece se tinha conhecimento efectivo da situação de sequestro a que estava sujeito António Varela, ou se apenas remeteu a situação para o Ministério Público por suspeitas de maus tratos e por impossibilidade de intervenção junto da família. Segundo apurou o SOL junto de fontes locais, a queixa foi arquivada.