Marcelo e Santana Lopes são conhecidos de toda a gente, pelo que não precisarão de uma campanha longa.
Três meses bastar-lhes-ão.
O caso de Rio é diferente: terá de avançar no início do Verão, até porque os meses de Julho e Agosto são quase mortos – e depois só se falará das legislativas.
Cabe ainda dizer que Marcelo dispõe de uma tribuna semanal na TVI e Santana Lopes é colaborador da SIC (embora num espaço com menor visibilidade e influência).
Portanto, Rui Rio, além de ter menos notoriedade do que os outros, tem menos presença regular no ecrã.
Olhando para a imagem dos três, Marcelo adquiriu uma certa respeitabilidade (até pelo facto de os jornalistas o tratarem reverencialmente por «professor»), Santana Lopes ainda não conseguiu ultrapassar o rótulo de aventureirismo que se lhe colou à pele, e Rio surge como um outsider, provinciano e truculento.
Nas suas prédicas semanais, há muito que Marcelo evita dar opiniões polémicas – limitando-se a enviar umas setas envenenadas, geralmente dirigidas ao seu partido ou ao CDS.
Muitas vezes perora sobre um assunto como quem dá uma aula – pelo que não gera muitos anticorpos.
E conta com a simpatia evidente da classe jornalística.
Pedro Santana Lopes continua a ser visto por muita gente como um político um tanto irresponsável que não leva nada a sério, capaz das maiores loucuras e no qual não se pode confiar.
Ele hoje já não corresponde a este retrato – mas é notório que a ideia persiste.
Santana já foi muita coisa na vida: enfant terrible do PSD, deputado europeu, empresário de comunicação social (Sábado e O Liberal), secretário de Estado, comentador de futebol, presidente do Sporting, presidente das câmaras da Figueira da Foz e de Lisboa, líder do PSD e primeiro-ministro, sendo actualmente provedor da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa.
Além disso, já viveu com várias mulheres e teve um sem-número de moradas – o que não abona a favor da sua estabilidade emocional.
Sejamos claros: Santana Lopes nunca será visto como uma pessoa completamente responsável e muito confiável.
Por mais que viva, não o conseguirá.
O que não significa que não pudesse fazer um bom papel em Belém, um pouco na linha de Mário Soares: um bon vivant com instinto político capaz de falar ao coração das pessoas.
A sua experiência política e de chefia de instituições é muitíssimo superior à de Marcelo, que vê as coisas de fora, como analista.
E os diversos cargos que exerceu, de variada natureza em áreas diferentes, deram-lhe maleabilidade e jogo de cintura.
Enquanto Marcelo tenderá a fazer de Belém um centro de intriga política, Santana poderá dar-se bem com qualquer Governo e adaptar-se a uma função mais representativa.
E Rui Rio?Só me lembro dele no espinhoso cargo de secretário-geral do PSD e à frente da Câmara do Porto – o que é poucochinho.
Nunca foi ministro nem líder partidário.
É muito conotado com o Norte, demasiado impulsivo e mesmo um tanto colérico (fazendo aí lembrar Sócrates).
O seu discurso anti-sistema, um pouco ao estilo de Alberto João Jardim, é populista e politicamente pouco consistente.
Em contrapartida, é um homem impoluto e bastante determinado.
Ao enfrentar, numa terra como o Porto, o todo-poderoso presidente do grande clube da cidade, mostrou fibra de lutador.
E o seu perfil justiceiro penetra bem no eleitorado central e mesmo na esquerda.
Sucede que, como se disse, tendo bastante menos notoriedade do que Marcelo e Santana, precisaria de se apresentar no início do Verão.
Mas como poderá lançar-se sozinho, sem saber se o PSD o apoiará?
Se tivesse essa certeza, Rio ganharia uma grande vantagem sobre os outros dois – pois, quando chegasse a altura de estes entrarem na corrida, já ele estaria há muito no terreno e levaria largo avanço.
Para Rui Rio avançar, é este, pois, o momento.
Se dispuser de meios para se lançar já e aguentar até às legislativas, terá boas hipóteses de ser Presidente da República.
Se não dispuser desses meios, não terá quaisquer hipóteses.