Agora ou nunca

À partida – e se não aparecer uma candidatura-surpresa, como a de Fernando Nogueira, por exemplo – a direita tem três candidatos pre- sidenciais  possíveis:  Marcelo Rebelo de Sousa, Pedro Santana Lopes e Rui Rio.  

Marcelo e Santana Lopes são conhecidos de toda a gente, pelo que não precisarão de uma campanha longa.

Três meses bastar-lhes-ão.

O caso de Rio é diferente: terá de avançar no início do Verão, até porque os meses de Julho e Agosto são quase mortos – e depois só se falará das legislativas. 

Cabe ainda dizer que Marcelo dispõe de uma tribuna semanal na TVI e Santana Lopes é colaborador da SIC  (embora num espaço com menor visibilidade e influência). 

Portanto, Rui Rio, além de ter menos notoriedade do que os outros, tem menos presença regular no ecrã. 

Olhando para a imagem dos três, Marcelo adquiriu uma certa respeitabilidade (até pelo facto de os jornalistas o tratarem reverencialmente por «professor»), Santana Lopes ainda não conseguiu ultrapassar o rótulo de aventureirismo que se lhe colou à pele, e Rio surge como um outsider, provinciano e truculento.

Nas suas prédicas semanais, há muito que Marcelo evita dar opiniões polémicas – limitando-se a enviar umas setas envenenadas, geralmente dirigidas ao seu partido ou ao CDS. 

Muitas vezes perora sobre um assunto como quem dá uma aula – pelo que não gera muitos anticorpos.

E conta com a simpatia evidente da classe jornalística.

Pedro Santana Lopes continua a ser visto por muita gente como um político um tanto irresponsável que não leva nada a sério, capaz das maiores loucuras e no qual não se pode confiar.

Ele hoje já não corresponde a este retrato – mas é notório que a ideia persiste.

Santana já foi muita coisa na vida: enfant terrible do PSD, deputado europeu, empresário de comunicação social (Sábado e O Liberal), secretário de Estado, comentador de futebol, presidente do Sporting, presidente das câmaras da Figueira da Foz e de Lisboa, líder do PSD e primeiro-ministro, sendo actualmente provedor da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa. 

Além disso, já viveu com várias mulheres e teve um sem-número de moradas – o que não abona a favor da sua estabilidade emocional.

Sejamos claros: Santana Lopes nunca será visto como uma pessoa completamente responsável e muito confiável.

Por mais que viva, não o conseguirá. 

O que não significa que não pudesse fazer um bom papel em Belém, um pouco na linha de Mário Soares: um bon vivant com instinto político capaz de falar ao coração das pessoas. 

A sua experiência política e de chefia de instituições é muitíssimo superior à de Marcelo, que vê as coisas de fora, como analista.

E os diversos cargos que exerceu, de variada natureza em áreas diferentes, deram-lhe maleabilidade e jogo de cintura.

Enquanto Marcelo tenderá a fazer de Belém um centro de intriga política, Santana poderá dar-se bem com qualquer Governo e adaptar-se a uma função mais representativa.

E Rui Rio?Só me lembro dele no espinhoso cargo de secretário-geral do PSD e à frente da Câmara do Porto – o que é poucochinho. 

Nunca foi ministro nem líder partidário.

É muito conotado com o Norte, demasiado impulsivo e mesmo um tanto colérico (fazendo aí lembrar Sócrates). 

O seu discurso anti-sistema, um pouco ao estilo de Alberto João Jardim, é populista e politicamente pouco consistente. 

Em contrapartida, é um homem impoluto e bastante determinado.

Ao enfrentar, numa terra como o Porto, o todo-poderoso presidente do grande clube da cidade, mostrou fibra de lutador.

E o seu perfil justiceiro penetra bem no eleitorado central e mesmo na esquerda.

Sucede que, como se disse, tendo bastante menos notoriedade do que Marcelo e Santana, precisaria de se apresentar no início do Verão.

Mas como poderá lançar-se sozinho, sem saber se o PSD o apoiará? 

Se tivesse essa certeza, Rio ganharia uma grande vantagem sobre os outros dois – pois, quando chegasse a altura de estes entrarem na corrida, já ele estaria há muito no terreno e levaria largo avanço. 

Para Rui Rio avançar, é este, pois, o momento.

Se dispuser de meios para se lançar já e aguentar até às legislativas, terá boas hipóteses de ser Presidente da República.

Se não dispuser desses meios, não terá quaisquer hipóteses.