O que dizem as raposas?

O maior sucesso virtual de 2013 foi uma música norueguesa onde dois comediantes sublinhavam que, ao contrário de outros animais, ninguém sabe muito bem que som faz uma raposa. E isto só interessa porque, a ter em conta a peça As Raposas que estreia esta semana no Teatro Aberto, afinal esse animal diz muito mais…

“Há umas raposas que não deixavam que lhes víssemos as caras. Mas de há uns 15 anos para cá começaram a aparecer. Pode-se ver por aquilo que aconteceu a uma das mais famosas famílias portuguesas. Esta peça faz-me lembrar isso”, explica João Lourenço, o encenador, que não se importa de dar nomes às coisas – a família a que se refere é a Espírito Santo e, não por acaso, o texto de Lillian Hellman fala de lutas de poder e de dinheiro no seio familiar.

Nesta adaptação, os negócios familiares são em torno da indústria vinícola (no original era algodão) e movimentam três irmãos que têm apenas uma vontade comum – “tirar mais sumo à uva”, como diz o mais velho, interpretado por Virgílio Castelo. E que, golpe contra golpe, vão dando sentido à centralidade cenográfica de umas enormes escadas que representam a vontade infinita de ter sempre mais, mesmo quando já se tem muito.

Há um banqueiro entre eles (João Perry) mas, por estar a morrer, é o único que se distancia do apelo do dinheiro para afirmar que tão culpados são os que fazem como aqueles que ficam a assistir, uma ideia essencial para a encenação de João Lourenço: “É que os espanhóis e os gregos ainda reagem. Os portugueses é que parece que não fazem nada. Estão como nas marchas, nas bancadas a ver passar o desfile”.

No texto da autora americana, que data de 1939, havia também uma importante vertente feminista que levou a que muitas actrizes recusassem à época o papel de Regina, personagem central aqui entregue a Luísa Cruz. “Representava a emancipação da mulher. É uma mulher que pode fazer o mal e que tem nela muito de várias grandes personagens femininas. A diferença é que, hoje em dia, todas as grandes actrizes querem este papel”.