O frenesim à volta dos nomes que vão integrar as listas do PSD/CDS e do PS para as legislativas deste ano já está em curso e a caça ao independente faz-se ao mesmo tempo em que são negociados lugares nas distritais. Tanto a maioria como os socialistas querem apresentar candidatos saídos da sociedade civil e sem cartão de militância partidária. Mas o exercício não se antevê fácil para os líderes: os independentes estão a fugir dos partidos.
Até agora, o maior trunfo de António Costa em matéria de independentes foi a escolha de Mário Centeno, quadro do Banco de Portugal, para coordenar o cenário macroeconómico do PS. Na Convenção que aprovou recentemente o programa eleitoral dos socialistas, Costa não conseguiu surpreender: repetiu o apoio de Helena Roseta (ex-PSD e ex-PS) e repescou António Capucho, o ex-militante do PSD que nas europeias já tinha apoiado os socialistas e se diz pronto para «voos mais altos» dentro do PS.
A coligação Portugal à Frente (PàF) também procura independentes. Paulo Portas, líder do CDS, assumiu durante o anúncio da coligação, que a lista conjunta será aberta à sociedade. Nuno Magalhães, líder parlamentar dos centristas, porém, dá conta da dificuldade, em entrevista ao SOL (página 12): «Há pessoas que gostam de dar a sua opinião mas depois quando convidados não estão disponíveis». Para já Nuno Botelho, presidente da Associação Comercial do Porto, ex- PSD e director da campanha de Rui Moreira para o Porto em 2013, é o nome mais conhecido, que vai integrar a comissão política da PàF na quota dos independentes.
Dificuldades à direita, alerta ex-secretário da Cultura
Francisco José Viegas não acredita em facilidades à direita. O ex-secretário de Estado da Cultura, uma das apostas de Passos Coelho há quatro anos, como cabeça-de-lista por Bragança, é categórico: «A coligação vai ter muita dificuldade em atrair independentes porque carrega o desgaste da governação». Além disso, «as máquinas partidárias desconfiam sempre dos independentes», acrescenta Viegas.
Francisca Almeida, militante e deputada do PSD, confirmava isso mesmo num artigo no Expresso online, onde acusava os partidos de criarem um duplo campeonato: «A primeira liga – dos independentes – e a segunda liga – dos seus próprios quadros».
Fernando Nobre, lembrando a sua experiência em 2011, diz que um independente é «aceite, ostracizado e rejeitado. Por esta ordem». O presidente da AMI foi outro dos não-militantes que chegaram pelas mãos de Passos Coelho às listas do PSD.
Cabeça-de-lista em Lisboa, Nobre foi, depois de eleito, o primeiro independente candidato à presidência da Assembleia da República (AR). Na votação em plenário, porém, não conseguiu convencer a sua própria bancada, não teve um único voto do CDS e fica para a História como o único pretendente ao cargo que não conseguiu ser eleito. «Os políticos profissionais entendem que são os únicos capazes de gerir a Res publica. Se eu fosse militante do PSD, hoje seria Presidente da AR», garante.
Costa está limitado, diz Vale de Almeida
Também à esquerda as portas estão abertas mas não se vê entusiasmo na oferta. Miguel Vale de Almeida, ex-BE que chegou à AR em 2009 nas listas do PS, sublinha que Costa enfrenta um duplo desafio: «Os putativos independentes estão organizados e, além disso, o líder do PS vai ter como prioridade a coesão interna do partido, depois de um processo complicado como foi o das primárias».
Vale de Almeida, que nunca chegou a aderir ao PS, é hoje um dos promotores da plataforma Livre/Tempo de Avançar, onde são candidatos, entre outros, Rui Tavares, Ana Drago, Ricardo Sá Fernandes, José Reis e Isabel do Carmo. Nomes com um passado político e partidário bem marcado mas que bem podiam ser trunfos de Costa nas próximas legislativas – como foram para Sócrates os independentes João Galamba e Isabel Moreira, que acabaram por aderir ao PS.
Vicente Jorge Silva, independente eleito em 2002 pelo PSde Ferro Rodrigues (tomou posse já como militante do partido, de onde viria a sair em 2004), lembra que o momento do partido também determina a disponibilidade dos não militantes. «Quando concorri tinha a expectativa de ver mais independentes», recorda. «Muitos ter-se-ão afastado devido a uma polémica com Sócrates [aprovação do estudo de impacto ambiental do Freeport], no tempo em que era ministro de Guterres», acrescenta.
Sobre Ferro Rodrigues, o jornalista lembra que tinha «uma liderança de grande abertura». Isto, numa altura em que «o mercado não estava esgotado, como está agora. Onde se vai buscar independentes agora?», questiona.
ricardo.rego@sol.pt