Só dois ‘ultra’ socráticos têm lugar garantido nas listas

As listas de deputados são sempre uma dor de cabeça para os líderes dos partidos. Do grupo de parlamentares mais conotados com José Sócrates só Renato Sampaio e Isabel Santos deverão voltar à Assembleia da República.  

Só dois ‘ultra’ socráticos têm lugar garantido nas listas

Do grupo dos seis deputados mais fiéis a José Sócrates, apenas dois têm o lugar garantido na próxima lista à Assembleia da República. Os outros deverão sair por falta de apoios ou por iniciativa própria. 

A Federação do Porto reúne o maior núcleo duro socrático – Renato Sampaio, Isabel Santos, José Lello e André Figueiredo foram todos eleitos por este distrito. Apenas os dois primeiros terão lugar assegurado. Juntam-se Paulo Campos, eleito pela Guarda, e Fernando Serrasqueiro, por Castelo Branco. Do conjunto, só Isabel Santos escapa à categoria de backbencher – tem um papel activo na bancada socialista, como vice-presidente. 

Renato Sampaio, apoiante desde a primeira hora de José Sócrates e seu amigo íntimo, tem fortes ligações ao distrito do Porto e uma grande influência na Federação pelo que «seria surpreendente» se não integrasse as listas, afirma ao SOL fonte conhecedora do processo. Aliás, Renato Sampaio é uma das pessoas que está a fazer as listas da Federação do lado dos apoiantes de António Costa, uma vez que a Federação ficou dividida a meio entre costistas e seguristas (o presidente eleito, José Luís Carneiro, era apoiante de António José Seguro). As listas vão ser formadas tendo em conta os resultados das primárias no distrito. 

Já Isabel Santos chegou ao Parlamento em 2011 pela mão do ex-primeiro-ministro, saindo do cargo de Governadora Civil do Porto, para onde foi nomeada em 2009 pelo Governo de Sócrates. É actualmente vice-presidente da bancada do PS e será «certamente indicada» pelo grupo de costistas no Porto, segundo fonte ligada à Federação. «O seu trabalho vale por si», garante um deputado. 

André Figueiredo e José Lello deverão deixar o Parlamento na próxima legislatura. O ex-chefe de gabinete de Sócrates, André Figueiredo, não tem ligações ao Porto, notam as mesmas fontes, e portanto «dificilmente» terá o apoio da Federação. Segundo os estatutos do partido, um terço das escolhas das listas está reservado para o secretário-geral, mas será «difícil» que Costa o integre noutro distrito. 

A visita que marcou o congresso
Figueiredo, bem como Renato Sampaio e Isabel Santos, foram à prisão de Évora visitar Sócrates no dia do Congresso do PS, em Novembro, quando o líder socialista tinha pedido contenção aos militantes e uma separação entre política e justiça. «Não tenho nada a dizer sobre deputados nem listas de deputados. Não tenho preocupação sobre isso, as minhas preocupações são o país e o combate a este Governo», afirma ao SOL André Figueiredo. 

Lello, que tem sido um dos mais vincados defensores de Sócrates, é parlamentar desde 1983 e há quem veja como «natural» que o próprio se queira afastar da vida como deputado. Ao SOL, Lello apenas diz: «Não ando a pensar nisso. Não tenho nenhuma preocupação com isso». 

Paulo Campos e Fernando Serrasqueiro são os outros dois deputados que completam o grupo dos 'ultra' socráticos no Parlamento. Campos foi secretário de Estado das Obras Públicas, uma das áreas mais criticadas no Governo de Sócrates. Nos bastidores, Campos já tem dito a alguns dos seus mais próximos que terá intenções de sair. Questionado pelo SOL, o deputado não quis fazer declarações. 

Serrasqueiro foi secretário de Estado do Comércio, Serviços e Defesa do Consumidor nos dois Governos de Sócrates, embora com menos protagonismo que Campos. Segundo fonte da bancada, «não será por ele que deixará o Parlamento», para onde foi eleito pelo mesmo círculo eleitoral de Sócrates, mas não há garantias que fique. 

As listas de deputados são sempre um tema sensível e polémico nos partidos. Mais ainda quando o PS tem um ex-secretário-geral preso preventivamente. A expectativa é que não haja uma «caça às bruxas», quer aos socialistas que estão mais conotados com Sócrates, quer aos que apoiaram o ex-líder António José Seguro. 

O grupo dos mais fiéis ao ex-primeiro-ministro é pequeno e discreto nos trabalhos parlamentares. Mas dos 74 deputados socialistas, um terço trabalhou directamente ou tem ligações ao ex-primeiro-ministro, incluindo dezasseis que foram membros dos seus governos. No entanto, a maioria não ficou colada à imagem de Sócrates. Alguns apoiaram Seguro e outros foram integrados pela família costista. Por exemplo, o ex-ministro da Justiça Alberto Martins e os ex-secretários de Estado António Braga e José Junqueiro apoiaram o ex-líder do PS, enquanto o ex-ministro do Trabalho e Economia Vieira da Silva e os ex-secretários de Estado Eduardo Cabrita, Ana Paula Vitorino e Elza Pais trabalham com António Costa. 

sonia.cerdeira@sol.pt
* Com Manuel Agostinho 
Magalhães