‘A prioridade agora é combater o desemprego’

Nuno Magalhães admite que os eleitores não darão o voto à coligação como prémio pelo passado e que são precisos novos “compromissos”. O combate ao desemprego será o grande desígnio da direita.

O que tem a coligação para oferecer aos portugueses além das promessas de manter as contas em ordem e evitar o regresso da troika?

Não é de somenos meter em ordem uma casa que estava bastante desarrumada, quase com uma acção despejo. Concordo que o passado, sendo importante, não chega. É preciso reforçar a esperança, com um conjunto de compromissos para o futuro. Não podemos é prometer repor tudo, como outros fazem, porque isso era repor a troika.

Qual será o grande desígnio da coligação?

Se a primeira, segunda e terceiras prioridades eram sair e no tempo previsto do programa cautelar. Agora é combater o desemprego. Tem reduzido consistentemente, mas 13% ainda é muito elevado.  Para combater o desemprego é preciso que haja mais e melhor investimento, que as exportações continuem a subir e que haja crescimento económico. 

Não teme que a situação na Grécia estrague a campanha? Acha que só a Grécia ou até o PS serão prejudicados? 

O que seria desejável para Portugal e para a União Europeia é que na Grécia se chegue a um acordo e possa sair da situação dificílima em que se encontra. Do ponto de vista político-partidário nacional a Grécia é um bom exemplo para perceber que quem promete tudo a todos acaba por prejudicar, como fez em 2011, tudo e todos.

Mas o Governo não pode ver o seu discurso de sucesso e de retoma económica ficar comprometido?

Se as coisas não correrem bem, o Governo português tal como a União Europeia têm de ter medidas de resposta. Este Governo já se precaveu com a chamada almofada financeira. 'Tem os cofres cheios'  porque tinha a capacidade de previsão de que algo podia suceder ao nível da UE, com a  Grécia ou outro caso qualquer.  Com essa gestão prudente estamos prevenidos.

Quais são os principais trunfos da coligação nestas eleições?

Todo o trabalho feito, com percalços, mas com estabilidade. A primeira coligação que chega ao fim de mandato é a que encontrou maiores dificuldades do ponto de vista da governação do país e que menos espaço de manobra tinha por ter um memorando para cumprir que era quase um programa de governo. Isso é um trunfo. E cumpriu com o plano de um só resgate, um só empréstimo, um só prazo. Isso não é um trunfo é uma garantia.

O que é mais temível em António Costa e no PS como adversário?

Temível para o país é que o PS caia, como tem caído nos últimos meses, na tentação de esquecer que é um partido do arco de governabilidade e por tentação eleitoralista prometer um pouco de tudo a todos. Vai repor os tribunais em todas as comarcas, vai repor todos os cortes nas pensões, vai repor todos os salários, vai repor os feriados. O que é pior para o país é que possa repor a troika. Mas os portugueses são cada vez mais exigentes e já não irão tão facilmente em promessas que não têm sustentabilidade.

António Costa não o assusta?

Claro que não. Se fizemos a coligação foi para ganhar as eleições e vamos ganhar.

Quais são as grandes bandeiras do CDS que o partido não vai mesmo deixar querer cair nesta campanha em coligação com o PSD?

As áreas do CDS estiveram no centro da governação nestes quatro anos e acho que vão estar no programa, que ainda está a ser elaborado. Na área da Segurança correu bem, a criminalidade desceu de forma significativa, estou convicto de que ainda é possível resolver o estatuto das forças de segurança. Na agricultura, no turismo, nas exportações, nas pequenas e médias empresas tem corrido bem dentro do possível e face às dificuldades que encontrámos. 

Que avaliação faz do mandato da actual ministra da Administração Interna?

É cedo porque é curto. Começar é sempre difícil, quando se apanha o comboio já quase a chegar à estação mais difícil é. O que interessa é o resultado final. Houve muita polémica mas se da polémica nascer um estatuto com o acordo das forças de segurança e capaz de ser sustentado pelo Estado eu diria quase que a polémica valeu a pena.

Que  balanço faz da legislatura enquanto líder da bancada do CDS?

Chego ao final do mandato com a consciência tranquila de que tudo fiz para desempenhar estas funções num momento particularmente difícil. Garantindo por um lado a autonomia do CDS, mas também a estabilidade política, que é muito importante – sem isto teria sido um desastre.

Se a coligação vencer mas sem maioria qual o parceiro que irão buscar? Preferem o Marinho Pinto ao PS?

Li uma entrevista de Marinho Pinto em que excluía desde logo o CDS, admitindo entendimentos com todos os outros partidos. Portanto a questão não se coloca, o que desde logo me sossega. 

E o PS ainda é hipótese? António Costa já excluiu.

Não sei, dependerá de muita coisa. Todos devemos ter o sentido de responsabilidade nesta campanha para não fazer determinado tipo de declarações que podem abrir um telejornal mas que podem prejudicar todo um futuro do país. O que desejo é que esta coligação ganhe e com maioria absoluta. O que procurarei é não ter declarações que atinjam as pessoas do ponto de vista pessoal e que depois impeçam uma solução a bem do interesse nacional.

Cavaco Silva elogiou a governação. É bom ter do lado da coligação o Presidente da República menos popular das últimas décadas?

Não sei se é o menos popular. E não acho que o Presidente esteja colado à maioria. Tem tido um pensamento muito coerente. Faz numa primeira fase um discurso de coesão e apelo nacional, que qualquer PR com qualquer Governo numa situação tão difícil, teria a obrigação de fazer para dar ânimo aos portugueses. Uma segunda fase em que o PR funcionou como um alerta para as dificuldades, receio de espiral recessiva com medidas do Governo, e disse que havia limites para os sacrifícios. Teve uma primeira fase de mobilização nacional, uma segunda de alerta ao governo para alguma políticas e, numa terceira fase, num discurso de 10 de Junho fez um discurso de esperança para os portugueses. Há um percurso lógico. Não prejudica nem beneficia.

Quem gostaria de ver em Belém? Já manifestou a preferência por Marcelo Rebelo de Sousa…

Disse ao SOL que seria um bom candidato… As eleições presidenciais são importantes mas não são prioritárias. Tenho um candidato preferido mas acho que não o devo publicitar porque a prioridade é ganharmos as legislativas e não quero criar engulhos, até porque todos os hipotéticos candidatos têm ligações ao nosso parceiro de coligação, o PSD.

sofia.rainho@sol.pt