Há, claro, algumas evidências analíticas sobre este medíocre resultado do PS: que é, cumulativamente, consequência do desgastante efeito eleitoral da prisão de Sócrates, da precipitada colagem inicial de Costa à vitória do Syriza, dos ziguezagues discursivos e programáticos do líder do PS ou do excesso de promessas que – como se tem visto em vários actos eleitorais por essa Europa fora – acabam por penalizar quem as prodigaliza. E há também, claro, quem faca graçolas como a de dizer que o apeado António José Seguro deve estar a assistir, de palanque e com um sorriso sarcástico, a este espectáculo.
Mas a sondagem da Católica – com 38% para a coligação PSD/CDS, 37% para o PS e cerca de 20% para os partidos à esquerda do PS – define um quadro de resultados que coloca Costa numa difícil encruzilhada política. Mesmo admitindo que o centro-direita esteja já a bater no tecto da sua máxima votação, a verdade é que o PS só pode voltar ao 1.º lugar captando votos nesses 20% dispersos à sua esquerda – e, para isso, tem que radicalizar ou socratizar ainda mais o discurso, com o risco evidente de perder, em contrapartida, mais votantes ao centro. Ou, então, tentar captar uma parcela dos 38% que apoiam a coligação PSD/CDS – mas, com um discurso mais moderado, arrisca-se a engrossar ainda mais os 20% de votantes no PCP, Bloco e seus derivados. A escolha de Costa não é simples.
Entretanto, a mesma sondagem revela que, à esquerda, o candidato presidencial Sampaio da Nóvoa é ainda desconhecido para 46% dos portugueses e que só 16% admitem vir a dar-lhe o seu voto.
Pode, pois, dizer-se, com toda a propriedade, que nunca como em 2016 foi tão fácil um candidato do centro-direita ganhar com folga umas eleições presidenciais. Nem em 1986 com Freitas do Amaral, nem em 1996 e 2006 com Cavaco Silva. Veremos se sabem aproveitar a oportunidade.
Crónica originalmente publicada na edição em papel do SOL de 26/06/2015