Independentemente dos amores ou desamores que José Sócrates nos possa causar é inegável que a sua intervenção politica não só está viva como criará dificuldades acrescidas a António Costa, como aliás foi evidente na sua desconfortável reação à entrevista nas instalações do Jornal de Negócios.
Depois dos ziguezagues em relação à vitória do Syriza na Grécia que começaram com declarações de esperança e terminam com acusações de irresponsabilidade, numa tentativa de evitar que os estilhaços da crise grega lhe caiam em cima, às medidas pouco concretas e, nalguns casos, muito confusas em relação àquilo com se comprometerá a realizar caso seja eleito Primeiro-Ministro, António Costa vê-se a braços com um novo problema que por certo lhe trará alguns dissabores. Sócrates, depois da sua ultima entrevista, é o seu novo calcanhar de Aquiles.
Não quero dizer que a estratégia de Costa, sobre o caso de Sócrates, não esteja correta. Está. De facto é preciso tratar na política aquilo que é da política e na justiça aquilo que é da justiça.
Mas isso é incompatível com o feitio de Sócrates, com a perspetiva que ele tem da sua situação, com a dívida que no seu entendimento o PS tem para com ele e com a noção de gratidão que ele idealiza sobretudo naqueles a quem possibilitou tudo. E, na perspetiva de Sócrates, António Costa é um deles. Foi seu número dois no governo e foi graças a ele que concorreu a Lisboa e a liderou durante os últimos sete anos e meio.
É evidente, por isso, que José Sócrates tentará que Costa pague caro a sua tentativa de colocar o PS num plano superior à sua situação pessoal. Até porque, para Sócrates, a sua situação é tudo menos pessoal. É política como tem insistentemente afirmado.
Claro que Costa será avaliado pelos portugueses pelo seu projeto e pela confiança que este lhes trará face à situação portuguesa, que já reconheceu ser melhor do que a de 2011, e face à situação europeia sobretudo daqueles países que, como a Grécia, rejeitaram liminarmente qualquer tipo de austeridade, constituindo-se numa esperança para partidos como o PS, e hoje estão na situação que todos sabemos.
Mas de uma coisa Sócrates tem razão. Com todas estes acontecimentos no plano político europeu e nacional, “isto ainda agora começou”.
* deputado do PSD