Maria Barroso, 90 anos de vida

Nasceu a 2 de Maio de 1925, na Fuseta, Olhão. Filha de um oficial do Exército, Maria de Jesus Simões Barroso deixa o Algarve ainda criança.

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Na adolescência entra para o Conservatório Nacional, onde estuda Arte Dramática. Mais tarde, frequenta a Faculdade de Letras de Lisboa, tendo-se licenciado em Ciências Histórico-Filosóficas.

 

No seu currículo oficial na Fundação Pro Dignitate, que fundou em 1994, recorda-se que “representou no Teatro Nacional durante quatro anos, enquanto aluna da Faculdade, sendo demitida pelas suas posições políticas como membro da Oposição Democrática ao regime de Salazar”. Tinha sido convidada por Amélia Rey Colaço para a sua companhia.

 

Também por causa da oposição ao regime, até ao 25 de Abril de 1974 foi-lhe vedada a possibilidade exercer como professora . “Mesmo em escolas privadas”, como a do sogro, João Soares, o Colégio Moderno, em Lisboa. Não o podia fazer oficialmente, mas dirigiu o colégio.

 

Não deixa de representar e de declamar, mas antes da Revolução, a face mais significativa da sua vida como actriz é a participação em Mudar de Vida, um filme de Paulo Rocha que se estreou em 1966.

 

Foi na faculdade que conheceu Mário Soares, no curso de Ciências Histórico-Filosóficas. Casam a 22 de Fevereiro de 1949 e têm dois filhos. João, nascido em 1949, e Isabel, em 1951 .

 

O casamento é realizado na prisão, porque Soares estava preso. E voltaria a ser preso, até ser deportado para São Tomé, em 1968, e mais tarde se exilar em França. Maria Barroso foi interrogada duas vezes, mas não chegou a ser presa.

 

Sem desistir das suas convicções políticas, candidatou-se à Assembleia Nacional, em 1969, pela Oposição Democrática. E em 1973 destacou-se no III Congresso da Oposição Democrática, em Aveiro, tendo sido a única mulher a intervir na sessão de abertura.

 

Foi uma das fundadoras do Partido Socialista, a 19 de Abril de 1973 na cidade alemã de Bad Münstereifel. Com a Revolução, por várias vezes foi eleita deputada ao Parlamento.

 

Depois do 25 de Abril representou em vários filmes de Manoel de Oliveira, por exemplo, como Benilde ou a Virgem Mãe, de 1975 (representara esta peça em 1947 no Teatro Nacional), Amor de Perdição, em 1979, e Le Soulier de Satin, de 1985.

 

No dia 16 de Fevereiro de 1986 Mário Soares é eleito Presidente da República e Maria Barroso dedica-se a uma nova função, a de ‘Primeira Dama’. Durante dez anos, lê-se no seu currículo oficial da Pro Dignitate, “desenvolveu actividades de apoio às áreas da cultura, educação e família, infância, solidariedade social, dimensão feminina, saúde, integração de deficientes e prevenção da violência”.

 

E “lançou em Portugal a reflexão e o debate acerca da violência nos media, denunciando, a partir de então, de forma veemente todas as situações de atropelos dos direitos humanos, defendendo e auxiliando as causas das vítimas da guerra, da fome, do racismo, da xenofobia, das mulheres e crianças maltratadas, dos excluídos socialmente, nunca esquecendo o povo de Timor”.

 

Fundou ou ajudou a criar, entre outras, a APEV (Associação para o Estudo e Prevenção da Violência ), a Emergência Infantil e a Fundação Pro Dignitate.

 

Em o filho João sofre um acidente de aviação em Angola e fica às portas da morte. Recupera e, no processo de cura, Maria Barroso converte-se ao catolicismo.

 

Depois de sair do Palácio de Belém, presidiu à Cruz Vermelha. E continuou a dedicar-se activamente às áreas que desenvolveu nos anos anteriores. É Doutora Honoris Causa por várias Universidades e agraciada com dezenas de prémios, tantos quantas as organizações a que pertenceu ou presidiu.

 

“Valeu a pena ter vivido. Apesar de todas as contrariedades, de todos os revezes, de todas as encruzilhadas. Passei tempos muito difíceis quase desde que nasci. Mas acreditei sempre”, disse a Luís Osório, em entrevista publicada no jornal i, há cerca de um mês, a 9 de Maio.

Morreu em Lisboa a 7 de Julho, aos 90 anos.