BCE avalia qualidade dos quadros bancários

O Banco Central Europeu (BCE) está a dedicar particular atenção à governação das grandes instituições bancárias. Neste momento, o supervisor único tem em curso uma avaliação à estratégia e perfil de risco dos bancos, abrangendo desde as estruturas de governação às unidades de negócio.

No relatório que apresenta as prioridades do mecanismo único de supervisão para este ano, Danièle Nouy, presidente do conselho de supervisão, explica que “está a ser desenvolvida uma avaliação do topo para a base da qualidade dos quadros que regem a propensão ao risco e das práticas de negócio” nas instituições significativas – o que em Portugal abrange a CGD, o BCP, o Novo Banco e o BPI.

Em declarações ao SOL, fonte oficial do BCE confirma o foco na governação das instituições bancárias: “Realizaremos centenas de inspecções in loco, no decurso de 2015. A maioria está relacionada com as prioridades de supervisão e análises temáticas, incluindo essas questões relacionadas com a governance e o risco operacional”.

'Colocaremos perguntas difíceis'

O escrutínio do BCE não fica por aqui. As equipas de supervisão conjuntas – compostas por elementos dos quadros do BCE e dos bancos centrais nacionais – “estão também a prestar especial atenção à constituição dos conselhos de administração, à sua competência, diversidade, desafios e cultura”.

O BCE quer ainda analisar a qualidade da prestação de informações aos quadros de administração e direcção. “As equipas analisarão se a administração e a direcção recebem relatórios sobre o risco com a qualidade necessária ao exercício da respectiva função de superintendência”, explica a presidente do mecanismo único de supervisão no mesmo relatório.

O BCE é responsável pela supervisão do 123 grupos bancários da Zona Euro desde Novembro de 2014. Apesar de este ser o primeiro ano completo de actividade, o BCE já deixou claro que pretende implementar uma supervisão mais intrusiva e interventiva. “Colocaremos perguntas difíceis e, quando necessário, questionaremos as respostas. Seremos duros como autoridade de supervisão, mas procuraremos actuar de forma justa e equilibrada”, alerta Danièle Nouy.

O carácter intrusivo da supervisão passa por “interacção estreita não apenas com a direcção dos bancos, mas também com os seus conselhos de administração e os comités estabelecidos no seio destes órgãos (em particular, os comités de risco e de auditoria)”.

Banca estima factura com litígios

Para o banco central, é necessário responder com urgências às preocupações crescentes “com práticas de gestão nocivas” na banca. Para tal, pediu aos bancos uma estimativa de custos de litigância: “Foi solicitado aos bancos considerados significativamente expostos a riscos de conduta que fornecessem uma quantificação dos potenciais custos com litígios”. As medidas internas serão postas à prova para avaliar se as provisões são adequadas e evitar surpresas ou imprevistos.

As iniciativas delineadas para este ano são de tal forma transversais que nem os sistemas informáticos dos bancos escaparão à fiscalização do BCE. Nesta matéria, as principais preocupações prendem-se com o “subinvestimento e lacunas nas soluções informáticas e no quadro de gestão de riscos, cibersegurança e integridade de dados”.

Estas prioridades são aplicáveis aos grupos bancários europeus sob a supervisão directa do BCE. Mas, tendo em conta o perfil de risco e a relevância sistémica da instituição de crédito, o BCE define um plano de actividades de fiscalização para cada banco para acompanhar os riscos e resolver as deficiências identificadas.

sandra.a.simoes@sol.pt