Nas intervenções finais após um longo e aceso debate no Parlamento Europeu, em Estrasburgo, e apesar de diversos apelos à união em busca de uma solução para a Grécia, o primeiro-ministro grego, Alexis Tsipras, insistiu nas críticas às instituições, acusando-as de querem impor medidas socialmente injustas a um Governo soberano, tendo na resposta Jean-Claude Juncker criticado a postura do primeiro-ministro grego ao longo das negociações.
Tsipras até começou por elogiar a Comissão, apontando que "se as negociações fossem só entre a Grécia e a Comissão, há muito que se teria chegado a um acordo", o que não sucedeu porque, "infelizmente", Atenas tem que negociar "com três instituições (Comissão, Banco Central Europeu e Fundo Monetário Internacional), que muitas vezes têm visões divergentes" entre si.
Lamentando que ao longo dos últimos meses se tenha muitas vezes "passado a imagem de que o Governo grego não apresentou propostas", quando, na sua opinião, apresentou propostas muito sérias e concretas, Tsipras disse reconhecer e respeitar que "a zona euro tem regras", mas sublinhou que, do lado grego, também há "o direito de escolha, o direito de dizer que 'não', enquanto Governo soberano".
Segundo Tsipras, não deve caber à 'troika' ditar a um governo como atingir determinados objetivos orçamentais e como distribuir o fardo dos sacrifícios, insistindo, por exemplo, em cortes nas pensões.
"Se um Governo soberano não tem o direito de escolher como atingir os objetivos, então é necessário adotar uma conceção antidemocrática e, nos países sob programa, não deveria haver eleições", mas antes "governos de tecnocratas que assumam a responsabilidade das decisões", declarou.
Juncker pediu a palavra para responder a Tsipras, começando por reiterar que o primeiro-ministro grego cometeu "um erro" ao abandonar a mesa das negociações, para convocar um referendo, e, aludindo às críticas do primeiro-ministro ao facto de as negociações terem lugar à porta fechada, observou que tal permite a Tsipras "depois dizer o que quiser", insistindo assim que o primeiro-ministro não faz publicamente um retrato fiel do que realmente se passou dentro da sala de reuniões.
Nesse contexto, voltou também a negar que alguma vez tenha defendido cortes nas pensões e reafirmou o seu forte empenho pessoal ao longo de todo o processo negocial, apontando mesmo que, no tempo de José Manuel Durão Barroso à frente da Comissão, eram funcionários que representavam o executivo comunitário nestas reuniões, e agora era o próprio presidente que tentava mediar um compromisso, voltando a lamentar que o Governo grego tenha decidido unilateralmente pôr fim às negociações que estavam em curso ainda referentes ao segundo programa de resgate, que acabou por expirar a 30 de junho sem um acordo.
Na parte final do debate, Tsipras também fez questão de se dirigir a Manfred Weber, líder da bancada parlamentar do Partido Popular Europeu (PPE) — a maior família política europeia, à qual pertence a chanceler alemã Angela Merkel — para lhe "lembrar que o momento mais forte de solidariedade da história europeia recente foi em 1953", quando foi fechado em Londres um acordo de perdão de dívida à Alemanha, cuja economia estava em "ruínas" após a II Guerra Mundial.
Lusa/SOL