«As imagens têm falado por si. Os pensionistas desesperados e as filas nos multibancos assustam as pessoas que vêem aquilo que nos podia ter acontecido», aponta um vice-presidente do CDS, que acredita que os efeitos da crise grega serão tidos em conta pelos eleitores portugueses no momento de ir às urnas.
«Pode levar a uma maior mobilização para o voto e combater a abstenção», sublinha a mesma fonte, defendendo que isso beneficiará a coligação. «Perante o medo de voltar para trás, o nosso eleitorado de centro-direita, que está zangado connosco, sente-se mais motivado para ir votar», comenta o dirigente centrista.
Apesar da cautela de evitar publicamente o discurso do «quanto pior, melhor», sociais-democratas e centristas acabaram por usar a Grécia para ensaiar durante o debate do estado da Nação – esta quarta-feira no Parlamento – aquele que será um dos principais discursos da campanha. À ideia do medo do regresso a 2011 e à situação de pré-bancarrota do Governo de Sócrates, junta-se agora o fantasma de uma crise como aquela em que mergulhou Atenas depois de o Syriza rejeitar as políticas de austeridade.
Luís Montenegro, pelo PSD, usou mesmo os gregos como uma imagem do que seria se estivessem certos os que previram um segundo resgate e uma espiral recessiva. «Acaso não tivessem falhado, talvez nós tivéssemos hoje em Portugal os bancos fechados, talvez em Portugal tivéssemos hoje as pessoas em fila no multibanco para acederem às suas poupanças, acaso não tivessem falhado, se calhar os pensionistas portugueses teriam dúvidas se iriam receber as suas pensões, mas essa realidade não é a realidade portuguesa», disse no debate, no qual Passos Coelho quis deixar clara a distância que separa Portugal da Grécia. «Hoje, sabemos o que isso custa, mas não com Portugal», frisou Passos numa alusão à Grécia e aos que acreditavam ser possível uma alternativa à política de ajustamento seguida pelo Governo.
Passos contente por não ter renegociado a dívida
«Afastámos o medo e a angústia que tantas vezes nos atingiu no passado», sublinhou o primeiro-ministro, afirmando que «muito foi feito e muito está ao nosso alcance fazer» para que a crise não se repita.
A ideia é clara: colar o PS ao Syriza, ao mesmo tempo que se recordam as «dez pragas» do Governo Sócrates que vão as «obras [públicas] faraónicas» a um «défice a rondar os dez por cento».
Na quinta-feira, Passos voltou, aliás, a usar a a política helénica para elogiar o caminho seguido. «Fizemos bem em não ter desistido», afirmou, dizendo-se contente por «não ter cedido à tentação de renegociar tudo».
*com Sofia Rainho