PS põe Nóvoa na sombra

O PS quer tirar as presidenciais do centro das atenções, um tema que tem trazido dores de cabeça a António Costa, para se focar nas legislativas. E com a possibilidade de Maria de Belém entrar na corrida, o PS está a deixar Sampaio da Nóvoa em suspenso.

O presidente do PS, Carlos César, fora o primeiro a sinalizar o apoio do partido a Nóvoa e, não por acaso, foi ele mesmo a dar um passo atrás ao admitir, à Antena 1, que o PS pode não apoiar ninguém nas presidenciais. Tal como o SOL noticiou a semana passada, Costa tem vindo a admitir nos bastidores essa possibilidade.

Na direcção do PS, as declarações de César são justificadas como fazendo parte de uma estratégia. “O que Carlos César fez foi estratégico. Foi tirar do debate a questão das presidenciais. A partir de agora, não vamos falar mais do assunto. Nenhum outro partido está a falar sobre isso. O combate é as legislativas”, garante ao SOL um dirigente próximo de Costa.

As duras críticas de vários socialistas, incluindo membros da direcção de Costa como Sérgio Sousa Pinto, ao ex-reitor da Universidade de Lisboa fizeram mossa. E a possibilidade, cada vez mais presente, de a ex-presidente do partido, Maria de Belém, avançar para a Presidência da República deixa o PS ainda mais dividido. Maria de Belém tem as vantagens de ser militante (uma das fragilidades apontadas a Nóvoa) e de poder só entrar na corrida após as legislativas, um timing que agradaria a Costa.

Um sinal de que Maria de Belém avançará pode ser dado já dentro de uma semana. “Se ela não aceitar ser cabeça-de-lista pelo Porto, será um sinal de que quer ir para Belém”, afirma ao SOL um apoiante.

Aparelho do PS confundido

Por isso, à cautela, o PS aguarda. “Imagine que três ou quatro dirigentes máximos do PS resolviam candidatar-se à Presidência: não nos envolveríamos num processo fratricida”, justificou Carlos César.

A confusão entre os socialistas percebe-se também através das acções de campanha de Nóvoa. Em alguns pontos do país, há estruturas locais do PS a apoiar o candidato, noutros não. Por exemplo, em Caminha, o presidente da Câmara, o socialista Miguel Alves, chegou a organizar algumas iniciativas de Nóvoa e o presidente da Câmara de Vila Real, Rui Santos, deslocou-se de propósito ao Porto para um almoço.

Já depois das declarações de César, Sampaio da Nóvoa tentou agarrar o apoio do PS, lembrando que confia em Costa e elencando os momentos do partido em que já esteve presente e nos quais colaborou, como o Congresso e a Convenção. “É evidente que o apoio de um partido como o PS é um apoio extraordinariamente importante para mim, como o apoio do seu secretário-geral, António Costa, com quem tenho tido sempre uma relação de imensa cordialidade e imensa confiança e com quem tenho colaborado”, disse à Renascença.

Instado a comentar o facto de o PS poder não apoiar Nóvoa, Costa apenas disse: “Não se pode confiar em todas as notícias”.

sonia.cerdeira@sol.pt