África vezes três para Barack Obama

Dias após a visita de Muhammadu Buhari a Washington, coroada pelo encontro com o homólogo americano Barack Obama, o Presidente nigeriano acusou os EUA de terem “ajudado e incitado” os extremistas do Boko Haram (BH), ao recusarem vender armas ao exército nigeriano.

No encontro no início da semana entre os dois chefes de Estado, a Nigéria – onde cerca de 10 mil pessoas já foram mortas pelos rebeldes islâmicos desde 2009 – procurou auxílio para combater o BH. Mas saiu de mãos a abanar: a Lei Leahy proíbe o Governo norte-americano de vender armas a países cujos militares abusem impunemente dos direitos humanos.

Buhari refuta alegações da Amnistia Internacional que indicam que cerca de 8 mil homens e rapazes, suspeitos de ligações ao BH, morreram à guarda dos militares. E queixou-se de que o exército nigeriano “não possui armas e tecnologia apropriadas” para lutar contra os extremistas, responsabilizando a Lei Leahy.

‘Bem-vindo a casa’

As declarações de Buhari apanharam Barack Obama em preparativos de viagem. Ontem à noite voou para o Quénia, que visitará pela primeira vez enquanto Presidente dos EUA. A Obamania já chegou a Nairobi, com pinturas a dizer ‘Bem-vindo a casa’: o pai do PR era queniano, tendo ido estudar para a América, onde se casou com a (futura) mãe de Obama.

Sem poder visitar a aldeia do pai, por razões de segurança, alguns familiares serão transportados até Nairobi.

Na quarta visita à África sub-saariana – e a primeira de um PR americano ao Quénia e também à Etiópia, no domingo -, temas como segurança e democracia estarão na agenda.

Democracia é precisamente uma questão sensível em ambos os países. Sobre o PR Uhuru Kenyatta recaíam acusações de crimes contra a humanidade, após a violência étnica que se seguiu às eleições quenianas – mas o caso foi recentemente arquivado. E a perseguição e o encarceramento de homossexuais continuam a manchar a folha de direitos humanos do país.

A Etiópia, onde Obama tem encontro marcado com o primeiro-ministro Hailemariam Desalegn, é um aliado na contenção ao extremismo islâmico em África – a troco de 800 milhões de dólares anuais. Mas perfila-se também com o autoritarismo de um Governo que tem 100% das cadeiras do Parlamento e onde a liberdade de expressão vive dias difíceis.