Só 9% dos cargos de administração vão para mulheres

Nas empresas cotadas na bolsa de Lisboa que integram o índice PSI-20, não há uma única mulher a ocupar o lugar de presidente. No Banco de Portugal e nas instituições financeiras do país, o mesmo cenário: os elementos femininos nos cargos de topo são uma raridade evidente.

A realidade do país reflecte-se nos rankings internacionais. Num estudo recente da Comissão Europeia, Portugal aparece como um dos países com menos representatividade feminina nos cargos de topo das empresas: apenas 9% dos lugares de administração lhes estavam confiados, quando a média europeia é de 19%. Só Malta, República Checa e Estónia apresentam valores mais baixos do que Portugal; Grécia e Chipre estão ex aequo.

A generalidade dos países europeus já aplica quotas para cargos públicos, e a discussão internacional está agora focada na necessidade de mecanismos de equilíbrio entre géneros também no sector privado.

Está em discussão uma directiva da União Europeia que vai obrigar os Estados-membros a inverter a tendência masculina nas administrações de empresas, mas vários Estados-membros já se adiantaram. Como noutros campos, a Escandinávia está à frente do campeonato. A Noruega introduziu em 2003 um sistema de quotas nas empresas privadas, que passaram a ter de garantir que 40% dos lugares iam para as mulheres. Quando introduziu a medida, apenas 6,8% dos lugares iam para mulheres.

No último relatório sobre desigualdade de género nos cargos de topo, a Organização Internacional do Trabalho considera que a imposição de quotas nos cargos públicos tem sido um mecanismo útil para aumentar a participação das mulheres, mas admite que há reticências das empresas no sector privado e que impor quotas fora do Estado é uma questão “polémica”.

Segundo o documento, um número significativo de mulheres indica que não quer ter um “tratamento especial” ou quotas e sim soluções flexíveis para conciliar os compromissos profissionais com os familiares. Por isso, as recomendações da OIT para o sector privado são sobretudo mecanismos de flexibilidade nas empresas para que as mulheres tenham também tempo para a família.

Além da presença de mulheres em cargos de administração, há outra dimensão com que as autoridades nacionais e internacionais estão preocupadas: a desigualdade de vencimentos.

Em Portugal foi feito no ano passado o primeiro Relatório sobre Diferenciações Salariais por Ramos de Actividade, por iniciativa do Governo. A investigação, feita com base nos dados salariais que as empresas fornecem à Segurança Social,  revelam uma diferença de 18% entre a remuneração média mensal de homens e de mulheres.

joao.madeira@sol.pt