A Lourdes Pintasilgo de Marcelo Rebelo de Sousa

Ao fim de quase três meses no terreno, a candidatura presidencial de Sampaio da Nóvoa não pára de dar passos atrás. Se, no arranque, contava com o apoio aparente de quase toda a esquerda, agora surge com crescentes anticorpos em vários sectores, que vão do Bloco a numerosos dirigentes do PS que recusam publicamente fazer…

Se bem que, destes, só mesmo Ramalho Eanes tem aparecido a dar a cara por Nóvoa. Invocando, aliás, argumentos idênticos aos que estiveram na base do nascimento do eanismo e do PRD, há 30 anos, e que ainda deviam fazer António Costa e boa parte do PS corarem de vergonha por esta recente colagem a Eanes. Foi esse mesmo PRD eanista que em 1985 quase reduziu o PS a menos de 20% e a uma força secundária na esquerda portuguesa. Eanes continua a propagar uma cartilha anti-sistema, eivada de preconceitos antipartidários, elogiando Nóvoa porque “está descomprometido com as elites político-partidárias, primeiras responsáveis pela nossa nefasta situação” ou porque “está livre de compromissos partidários que possam inibir a sua liberdade de acção política”. Diga-se que esta desconfiança dos partidos e afirmação de independência à sua margem é um sintomático traço de união entre os discursos de Nóvoa e de Eanes. Que preocupa, logicamente, alguns sectores socialistas.

Entretanto, Maria de Belém já deu todos os sinais de que vai mesmo avançar com uma candidatura a Belém. E, apesar da sua volatilidade política, até já ultrapassa Nóvoa em algumas sondagens. E se já era muito improvável a vitória de uma candidatura de centro-esquerda na 1.ª volta, com a ex-presidente do PS na corrida essa vitória torna-se de facto impossível.

Ou seja, tal como Maria de Lourdes Pintasilgo, há 30 anos, impediu a derrota de Mário Soares na 1.ª volta e a vitória de Freitas, agora Maria de Belém pode ser a Pintasilgo de Marcelo Rebelo de Sousa nas presidenciais de Janeiro de 2016. Falta saber se Marcelo quer mesmo.

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