2. Formalmente, o discurso de Paulo Portas foi mais enxuto, mais condensado, mais curto – mas com muita dinâmica, com eficácia e com força política. Já o discurso de Passos Coelho foi muito mais longo, mais redondo, mantendo o seu tropismo para o improviso – o que aumenta em genuinidade e espontaneidade (logo: em sinceridade e verdade) o que diminui em eficácia política e força da mensagem. São dois estilos diferentes, mas não antagónicos: como já escrevemos aqui no SOL, os discursos de Passos e Portas, na forma (para além do conteúdo) são complementares.
3. O que é curioso e mesmo uma ironia do destino: os dois líderes políticos acusados invariavelmente de, nos últimos quatro anos, demonstrarem um défice de química e compatibilidade entre eles. Pois bem, Passos e Portas, em nome do interesse superior de Portugal, entenderam-se, dão-se bem, encontraram a sua química: hoje são uma dupla política que funciona muito bem e é extremamente forte. Entre Passos e Portas não foi amor à primeira vista, mas foi um amor trabalhado e conquistado: às vezes na vida, o segundo é bem melhor do que o primeiro.
4. Posto isto, vamos às ideias fortes do programa eleitoral. Note-se que são ideias, compromissos ou garantias: e não promessas. O que faz toda a diferença: a promessa consiste em adoptar uma conduta (geralmente positiva, como a atribuição de um benefício concreto) específica para agradar a todos. Como as promessas são intenções vagas, pode-se prometer tudo a todos, de acordo com as conveniências e com as plateias – é o que António Costa, à boa maneira socialista da escola de José Sócrates, faz. Quando está com investidores chineses, diz uma coisa. Quando está com empresários da restauração, diz outra coisa. Quando está com os patrões, diz o seu contrário. Já as garantias, ou compromissos, são objectivos, são metas que serão atingidas no final da legislatura. O Governo define princípios gerais de acção política, os quais são flexíveis para se adaptarem às condicionalidades de um mundo em constante mudança – mas compromete-se em atingir determinadas metas.
5. Ou seja: uma coisa é, como o PS faz, colar cartazes pimpões com “Emprego, Emprego, Emprego” ou “Criaremos 150.000 postos de trabalho” e depois arranjarão mil e uma desculpas para não cumprirem a promessa – outra, bem diferente, é realisticamente explicar aos portugueses que tudo se fará para aumentar a competitividade da economia portuguesa, porque só uma economia forte e com vitalidade pode criar empregos. Pode criar Futuro. Pode gerar Esperança. Pode dar vida ao Sonho.
6. São, pois, duas abordagens totalmente diferentes a do PS (promessas, promessas e mais promessas) e a da Coligação (garantias de bom trabalho em prol dos portugueses). A do PS é uma abordagem irresponsável – a segunda, a da Coligação, é uma abordagem responsável. Chamamos a atenção do meu caríssimo leitor para o seguinte facto: a reacção de António Costa, logo a seguir à apresentação do programa, foi a de dizer que Passos Coelho e Paulo Portas não prometem nada, não dizem nada de novo. São muito previsíveis. Todavia, poucos dias antes, António Costa pediu ao seu delfim, herdado do socratismo, João Galamba para dizer que Passos Coelho entrou numa deriva eleitoralista quando afirmou que iria devolver aos portugueses aquilo que pagaram mais em impostos. Então em que ficamos? A coligação nada promete, nada traz de novo – ou é demasiado eleitoralista? Afinal, entrou numa manobra de tudo vale para ganhar eleições – ou é demasiado prudente, não trazendo novidades, como diz Costa? Então Partido Socialista: em que ficamos? Quem tem razão: o Costa ou o Galamba? Entendam-se!
7. A ideia, a nosso ver, mais forte e que mais nos agrada no programa da Coligação “Portugal à Frente” é de garantir a defesa intransigente e o aprofundamento do Estado Social – matando o Estado socialista. Já escrevemos aqui no SOL – e desenvolveremos em próximo tempo novamente – que uma coisa é o Estado Social – outra é o Estado Socialista. O primeiro, o que vale a pena (Estado Social), em Portugal, sempre funcionou mal – o segundo, aquele que é deplorável (Estado socialista), tem funcionado bem demais em Portugal. Tão bem que enquanto alguns camaradas enriqueceram (com a cumplicidade de alguma gente do PSD, é bom que se diga), Portugal esteve à beira da bancarrota. Passos Coelho e Paulo Portas salvaram o Estado Social ao evitarem o Estado falido – e na próxima legislatura aprofundarão o Estado Social.
8. Como? Dando mais atenção à protecção da infância, à natalidade, a medidas para reforçar os laços familiares, repondo a família como célula base da organização social, no apoio aos mais idosos, promovendo a cooperação entre Estado e sociedade civil, apostando num novo paradigma de sistema educativo, assente na promoção da meritocracia e da mobilidade social ascendente, dando liberdade e responsabilidade aos pais de escolherem a escola que julguem melhor para os seus filhos e, sobretudo, criando empregos. Sim, porque não há melhor Estado Social do que aquele em que o Estado é reduzido, mas eficaz e forte – e os cidadãos são felizes e com salários ao fim do mês. Esse é o melhor Estado Social – embora não seja o Estado Socialista. Nós sabemos que o PS prefere um Estado enorme, ineficiente e com muitos cargos e cargozinhos, com muitos impostos e impostozinhos, com muitas taxas e muitas taxinhas.
9. Em suma, Passos Coelho e Paulo Portas querem prosseguir o trabalho que já iniciaram: concretizar, finalmente, o 25 de Abril de 1974. O 25 de Abril foi feito para atingir a liberdade de todos os cidadãos, independentemente da sua origem social, geográfica, sexual ou outra. Liberdade. Liberdade implica sucesso profissional e pessoal – logo, implica oportunidades. Logo, implica uma economia forte, competitiva e dinâmica. Logo, implica o contrário do programa do PS, do PCP ou do Bloco de Esquerda.
10. A escolha é, portanto, clara: todos os portugueses que quiserem concretizar o 25 de Abril votarão na Coligação “Portugal à Frente”; quem quiser manter a sociedade estagnada, parada no tempo, matando os ideais de Abril poderão votar no PS, no PCP ou no Bloco de Esquerda. Nunca a escolha dos portugueses foi tão decisiva.
11. A próxima legislatura ou é social – ou não é.