O líder do Syriza viu-se obrigado a recorrer a deputados da oposição para ver as novas medidas aprovadas no Parlamento. Mas as duas reformas representam apenas o início de um terceiro programa de resgate no valor de 86 mil milhões de euros que terá de ser negociado até 20 de Agosto, data em que Atenas terá de pagar dívidas de 3,2 mil milhões ao Banco Central Europeu (BCE).
Tsipras não aceita ficar refém da “chantagem” da ala esquerda do seu partido, que conta com cerca de um terço dos 149 deputados do Syriza. “Se não tiver uma maioria parlamentar serei forçado a provocar a antecipação de eleições”, avisou na quarta-feira.
Com o discurso endurecido, Tsipras não poupa nem o antigo aliado Yanis Varoufakis, afastado do Ministério das Finanças para apaziguar a relação com os credores antes do sprint final das negociações do início do mês: “É surreal demais dizer ‘votei contra as medidas do Governo mas apoio o Governo’”, disse em alusão à posição do seu antigo braço direito.
O primeiro-ministro sabe que, ao contrário de Varoufakis, tem defendido a posição preferida da maioria do eleitorado: dar luta aos credores na busca do melhor acordo possível sem deixar que a situação chegue a um ponto de ruptura que leve a Grécia a sair da Zona Euro.
Assim, apesar das críticas diárias de altos dirigentes do seu partido, o líder do país conta com uma taxa de aprovação de 61%, enquanto o Syriza lidera as sondagens com quase 20% de vantagem sobre a concorrência directa. Um inquérito realizado entre 20 e 21 de Julho dá ao partido 41,2%, quase mais 5% da maioria obtida na votação de Janeiro.
Ilibado do ‘plano Varoufakis’
E o afastamento face ao antigo responsável das Finanças permite também a Tsipras sair incólume do escândalo revelado no diário Ekathimerini, segundo o qual Varoufakis comandava um grupo de trabalho que preparava secretamente o regresso do país ao dracma, a moeda que antecedeu ao euro.
O jornal sustenta a acusação num discurso off-the-record que Varoufakis teve com investidores a 16 de Julho, já depois de ter abandonado o Governo. O ex-ministro terá explicado que o seu grupo de trabalho “iria criar um sistema bancário paralelo que daria espaço para o país respirar quando os bancos fossem fechados pela política agressiva do BCE”.
Nos dias seguintes o economista norte-americano James Galbraith, antigo colega de Varoufakis na Universidade do Texas, confirmou ao Politico ser um membro não-remunerado desse grupo de “quatro ou cinco membros”. Mas garantiu “não haver nada remotamente questionável no que foi feito”, explicando tratarem-se de medidas preparatórias para um cenário catastrófico que não podia ser assumido: “Temas como, qual o inventário de combustíveis? Qual a situação da comida? Quanto tempo durariam os medicamentos disponíveis? Coisas que se começarmos a perguntar vão causar alarme na população”.
Dois cidadãos apresentaram queixa contra o ex-ministro, acusando-o de traição à pátria com a elaboração de um plano que visava um cenário de bancarrota e de saída do euro. O Supremo Tribunal remeteu a questão para o Parlamento, onde os deputados terão de aprovar a suspensão da imunidade parlamentar de Varoufakis.
Quem agradece o desviar de atenções é Tsipras, que na quarta-feira recebeu nova ajuda improvável da líder do FMI, que reafirmou a “inevitabilidade” da renegociação da dívida grega. “Políticas fiscais, reformas estruturais, financiamento e reestruturação da dívida são os quatros pilares da solução grega”, disse Christine Lagarde.
Menos convencidos estão os credores europeus, com o grupo de ‘sábios alemães’ – nome atribuído ao conjunto de cinco conselheiros independentes do Governo germânico – a voltar a defender a criação de um mecanismo que permita a saída de membros da Zona Euro. “Para garantir a coesão da união monetária temos de reconhecer que os eleitores nos países credores não estão dispostos a financiar os países devedores permanentemente”, afirmou o líder do conselho de sábios.