De rastos

São duas veias da actividade do espírito, que navega entre a simples coscuvilhice e as gloriosas façanhas oceano fora.

 «A curiosidade, instinto de complexidade infinita, leva por um lado a escutar às portas e por outro a descobrir a América». Já dizia Eça, a relativa distância das malhas da internet, uma extensa teia para alcoviteiros portugueses e de todas as nacionalidades.

Hoje é mais fácil sondar a actividade do vizinho ou alcançar a costa de um outro continente – o difícil é não ser apanhado a fazê-lo (se prezar a moderação, claro, porque há quem não queira outra coisa). O mundo está cada vez mais cheio de vigilantes, de testemunhas formais e informais cujos olhos jamais se cansam de espreitar o quintal do lado, de intrometidos ‘grandes irmãos’ ou primos em distante grau que acompanham os passos do próximo, seja ele um cidadão exemplar a caminho de férias ou um destinado a reclusão doméstica.

Para o bem ou para o mal, há um rasto que não se apaga, e diligentes abelhudos a escrutinar os trilhos de pistas, a morder as canelas a inofensivos acontecimentos e a estonteantes infrações. E a contarem-lhe tudo o que puderem. No caso do jornalista, pode nunca ter a oportunidade de conhecer a América. Mas é bom sinal se continuar a poder mostrar-lhe o que se passa do outro lado da porta. Porque nem tudo é assunto exclusivo de família. 

maria.r.silva@sol.pt