Passos discorda do FMI sobre necessidade de mais austeridade

O primeiro-ministro, Pedro Passos Coelho, defendeu hoje que o próximo Governo deve prosseguir o “ímpeto reformista”, mas discordou do FMI quanto a eventuais medidas adicionais para cumprir a meta do défice prevista pelo atual executivo.

“Presumo que o FMI não tenha nenhum prazer em dizer coisas desagradáveis”, disse Pedro Passos Coelho aos jornalistas, no concelho de Vouzela, distrito de Viseu, ao realçar que “nem sempre as opiniões” do Fundo Monetário Internacional “são coincidentes” com as do Governo.

No último relatório de acompanhamento da evolução da situação portuguesa, após a intervenção da ‘troika’ internacional (FMI, Comissão Europeia e Banco Central Europeu), divulgado na quinta-feira, o FMI, entre outras recomendações, alerta que a meta do défice de 2,7%, prevista pelo Governo, dificilmente será conseguida sem medidas adicionais.

“Não vemos razão para sermos tão pessimistas como os números que são apontados pelo FMI”, disse o primeiro-ministro, para reiterar que, na ótima do Governo, “não serão necessárias medidas adicionais para o défice este ano fique abaixo dos 3%”.

No entanto, admitiu, o FMI “tem razão no essencial” e o Governo que sair das eleições legislativas de 04 de outubro “não pode estar a reverter tudo o que foi feito nestes anos”.

O relatório do FMI recomenda ainda alguma cautela na devolução, em 2016, das sobretaxas da receita fiscal deste ano e pede mais reformas ao próximo executivo.

Pedro Passos Coelho ressalvou que os dados em que assenta aquele documento “já estão ultrapassados” e são “piores do que aqueles que verdadeiramente hoje existem” em Portugal.

Sobre o desemprego, a informação tida em conta pelo FMI “já não condiz com os resultados” do momento.

Pedro Passos Coelho realçou que o relatório alude a uma taxa de desemprego “superior a 13%”, mas os dados do Instituto Nacional de Estatística (INE) apontam para 11,9% neste momento.

Por outro lado, afirmou, “estamos plenamente convencidos que quer o IVA quer o IRS ficarão acima daquilo que estava estimado” e que “será superada” a meta estabelecida no Orçamento de Estado deste ano para a receita fiscal.

Em 2016, será “devolvido aos contribuintes o que o Estado arrecadar a mais”, pois “não temos nenhuma razão para por isso em causa”, disse.

“Já estamos a crescer e a criar mais emprego. Não vemos razão para sermos tão pessimistas como os números que são apontados pelo FMI”, reiterou o primeiro-ministro.

Questionado pelos jornalistas, em Cambra, concelho de Vouzela, sobre a venda do Novo Banco e, em geral, sobre a resolução do processo BES/GES, Pedro Passos Coelho disse que, tanto num como noutro caso, a economia será afetada, independentemente dos resultados, mas o Estado e os contribuintes “não serão prejudicados”.

“Os prejuízos finais” do caso BES/GES “serão para a economia portuguesa”, que na sua opinião “tem vindo a reagir bem”.

Lusa / SOL