Desemprego e impostos. Guerra de números até às urnas

Números do desemprego e da devolução fiscal condicionam campanha. PS tem grupo de reacção e estratégia preparada para a subida sazonal do emprego.

As estatísticas do desemprego e os dados do simulador da devolução do crédito fiscal prometem ser o centro da guerra de números em que se vai transformar a campanha eleitoral. Do lado da maioria, tenta-se puxar pelos valores mais positivos e dar caras às estatísticas, pondo nos tempos de antena pessoas que ilustrem os números.

No PS, a estratégia é mostrar que os dados são ‘mascarados’. E há mesmo um grupo destacado para em cada momento desmontar os dados oficiais.Os deputados Pedro Nuno Santos, João Galamba e Vieira da Silva e os economistas Mário Centeno e Manuel Caldeira Cabral (candidatos nas listas do PS) integram esta equipa de reacção rápida, de composição variável em tempo de férias.

Esta semana reagiram todos os dias, seguindo uma estratégia que desvaloriza os dados oficiais, mostrando outra realidade. No caso do desemprego, «as estatísticas não explicam a dimensão do problema e deixam de fora os desencorajados e os que estão inscritos em programa ocupacionais», diz ao SOL Pedro Nuno Santos.

Nos próximos dois meses haverá novos combates em torno das estatísticas. E o PS sabe que o emprego sazonal pode dar pretexto ao PSD e CDS para celebrar. Os socialistas esperam desfazer esse efeito desmontando as estatísticas. «Até 2011 os desempregados em programas de formação não eram considerados empregados, agora são. E com o aproximar das eleições há quem esteja em programas de uma semana para sair das estatísticas do desemprego», acusa Pedro Nuno Santos.

Outra área de combate vai ser a da devolução da sobretaxa do IRS. O PS chama ao simulador das Finanças uma «criação feita para a campanha eleitoral». E já se prepara para desmontar as actualizações que serão feitas em Agosto e em Setembro. «As receitas de IRS e IVA estão a ser empoladas, porque a máquina fiscal está a atrasar pagamentos», diz o deputado socialista.

UTAO irritou coligação

Esta semana, PSD e CDS voltaram a ter de apagar o fogo de dados menos positivos, com evidente mal-estar. Depois de um relatório do Tribunal de Contas arrasador para a privatização da EDP e da REN, e de o INE ter revisto em baixa os números do desemprego de Maio, o relatório da UTAO foi mais um momento de desconforto para a maioria, que preparou uma campanha com base nos bons indicadores económicos e no rigor das contas.

«Um lapso», é como o deputado Duarte Pacheco se refere à extrapolação que a UTAO faz da receita fiscal para chegar à conclusão – num relatório divulgado esta semana – que o Governo arrisca ter um buraco de 660 milhões no Orçamento. «Que é estranho é», sugere um vice-presidente do PSD. «É um problema», comenta ao SOL um deputado social-democrata, preocupado com os efeitos de a UTAO ter alertado para a possibilidade de o Governo não atingir um dos seus principais objectivos: conseguir chegar ao fim do ano com um défice abaixo dos 3%.

A preocupação da maioria foi deixar claro que os dados da UTAO são uma extrapolação que não tem em conta o histórico da receita fiscal. «O 2.º semestre gera sempre mais receitas, por causa das actividades sazonais do Verão do turismo e da agricultura, mas também por as pessoas receberem nesse período quer o subsídio de férias quer o de Natal», explica ao SOL Duarte Pacheco.

«Eu diria que não há organização que não possa ser alvo de um lapso, de um esquecimento», diz Pacheco, recusando teorias da conspiração. «Não vou por aí».

Ontem, o segundo relatório de monitorização pós-programa do FMI também não ajudou. O Fundo duvida da capacidade de atingir um défice abaixo dos 3% e defende que o Governo pode ter de «adiar ou cancelar». a devolução da sobretaxa. Carlos Carreiras fez a despesa da reacção oficial, dizendo que gostaria de ver o FMI a analisar o programa do PS: «Chumbaria claramente».