Algumas pessoas passavam de carro na estrada que liga Travanca a Oliveira do Mondego, ambas localidades do concelho de Penacova (Coimbra), na segunda-feira à noite, «aí pelas 22h, 22h30», como descreveram ao SOL, quando viram chamas na floresta. Antes de contactar as autoridades, sabiam que era urgente actuar. E foi o que fizeram: acorreram ao local onde se viam as chamas e surpreenderam um madeireiro a atear dois fogos.
O presumível incendiário, de 48 anos – ou seja, dentro da faixa etária da maioria dos incendiários referenciados pela Polícia Judiciária (PJ), que vai dos 40 aos 60 anos -, chama-se Jorge Mendes, é madeireiro e tem uma filha de cerca de 13 anos, apurou o SOL. Para quem o conhecia, aparentava ser «uma pessoa normalísssima».
Isto apesar de uma vizinha revelar que teria «problemas de álcool». O argumento foi utilizado pelo próprio, aliás, quando foi detido pela GNR, que acorreu ao local para prender o suspeito que os populares mantiveram consigo até chegarem as autoridades.
Na zona de Penacova, mais especificamente nas três freguesias atingidas pelas chamas – as uniões de freguesias de Friumes e Paradela, de São Pedro de Alva e São Paio do Mondego e de Travanca do Mondego e Oliveira do Mondego -, ninguém esperava que Jorge Mendes, que, segundo os moradores da zona, vive com a companheira em Paredes, uma pequena localidade também do concelho de Penacova, fosse capaz de atear fogo.
Há, porém, quem não tenha qualquer pejo em apelidar o suspeito de «ladrão». É o caso de Vítor Branco, construtor civil que emigrou para França há cerca de um ano «por causa de pessoas como aquele criminoso», como o descreve. «Não tenho qualquer problema em o dizer publicamente, simplesmente porque é a verdade», acrescenta, revelando que pôs em tribunal um processo contra o madeireiro. «Construí-lhe uma vivenda em Cunhedo, há cerca de três anos. Ficou a dever-me 15 mil euros», conta.
Agora, o madeireiro foi apanhado em flagrante a atear dois fogos e a PJ assegura haver «fortes indícios» de ter iniciado também «um grande incêndio que deflagrou na localidade de Lavradio, pouco depois das 18h» do mesmo dia.
E se antes do sucedido Vítor Branco tinha poucas esperanças de receber o dinheiro em dívida, agora são «praticamente nulas»: «Fomos ao tribunal em Maio e ele disse que não paga. Agora com este processo dos incêndios é que nunca mais recebo o dinheiro», desabafa ao SOL.
Apesar do diferendo, o construtor transmite a mesma sensação dos vizinhos que surpreenderam o madeireiro na segunda-feira: «nunca esperámos uma coisa destas».
No incêndio de Lavradio, presumivelmente iniciado também por Jorge Mendes, foram envolvidos no combate às chamas 215 bombeiros, 65 veículos e um meio aéreo. As chamas seriam controladas apenas na madrugada de terça-feira. As motivações do madeireiro permanecem, até ao momento, um mistério. O próprio terá dito aos agentes da GNR que o interrogaram que «agia sob o efeito do álcool», mas não estão descartadas motivações económicas.
Filho de bombeiro é suspeito de outro incêndio
Na quarta-feira, mais um menor de 13 anos – que se soma aos dois menores de 18 anos que tinham sido identificados este ano -, filho de um bombeiro, foi também identificado pela GNR por suspeita de iniciar um incêndio que consumiu eucaliptal e pinhal em Campia, Vouzela, no distrito de Viseu. Segundo noticiou o Correio da Manhã, o menor terá dito às autoridades que «gostava de ver o pai a combater o fogo».
Este ano, até 11 de Agosto, foram já constituídos 65 arguidos por crime de incêndio, revelou ao SOL fonte oficial da PJ. Desses, apenas cinco eram mulheres. Quase metade ficaram presos, revela a mesma fonte: 32, dos quais dois são do sexo feminino.