Costa em campo minado

Em vésperas de disputar as eleições da sua vida – aquelas que podem levá-lo a primeiro-ministro ou pôr termo à sua liderança –, António Costa atravessa um campo minado. Ao apear António José Seguro, derrotando-o nas condições que ele estabeleceu e impôs, o novo secretário-geral parecia ter o PS na mão e, à sua frente,…

O maior desses obstáculos nada tem a ver com o seu desempenho. Nestes dez meses, a situação económica e social mudou, evoluindo de forma suficientemente positiva para que a actual maioria possa dizer, como diz a toda a hora, que o pior já passou e o futuro se apresenta menos sombrio. Por enganadores que sejam os dados estatísticos quanto a uma mudança real da vida do país e das pessoas, cessaram, ou foram adiadas por conveniência eleitoral, as más notícias que se sucederam desde 2011. O desespero da austeridade sem fim deu lugar a uma vaga esperança e a uma redução significativa da animosidade contra o Governo. 

Soma-se a isto o caso da Grécia. Toda a gente sabe – e a direita também – que o PS não é o Syriza, apesar do tal comentário de Costa sobre a vitória de Tsipras. Pelo contrário, o drama socialista, que António José Seguro já tinha experimentado, é a dificuldade, se não mesmo a impossibilidade de o PS apresentar uma alternativa muito distinta das políticas do Governo, a não ser numa questão de grau, exactamente porque nunca foi política sua desafiar credores, poderes e tratados da UE, como fez o Syriza.

Mesmo assim, qualquer ideia alternativa, ainda que pouco mais do que simbólica, serve à maioria para agitar o fantasma da Grécia. O medo faz campanha e, pelo menos em Portugal, tudo indica que a vacina grega está a produzir os efeitos desejados por Berlim e Bruxelas, entre os quais avulta o de proteger os governos mais cordatos e fiéis.

Como se não bastasse, o caso Sócrates nunca deixará de pesar e peripécias avulsas como a dos cartazes vieram também atrapalhar a vida do secretário-geral do PS. Ele não tem culpa de José Sócrates ter sido preso e não se ter remetido ao silêncio na cadeia, assim como não lhe compete averiguar se as fotos nos cartazes são adequadas.
Mas as coisas são o que são e, até agora, revelaram-se pouco compensadores os inegáveis esforços para dar credibilidade ao discurso e ao programa eleitoral, de modo a que este não seja um mero ‘saco de palavras’. 

A mais problemática das situações com que está confrontado é, no entanto, o anúncio da candidatura de Maria de Belém à Presidência da República, feito em cima das legislativas e na mesma semana em que Costa reafirmava simpatia por Sampaio da Nóvoa. Porque se trata de um desafio frontal à sua liderança, obrigando-o a optar entre um independente e uma ex-presidente do PS e porque põe a nu divergências sérias no partido, revelando que, apesar do silêncio exemplar de Seguro, o ‘segurismo’ não passou à história e, a pretexto de Belém, outros se lhe colaram. Só uma vitória «inequívoca», como a que pede Passos Coelho, poderá devolver a Costa a força política com que chegou a secretário-geral.

E essa, segundo as sondagens, parece uma meta distante.

Para celebrar

Até ao fim de Julho, nasceram mais 1.500 bebés do que no mesmo período do ano passado. Deve faltar pouco para a actual maioria reclamar dividendos políticos desta ‘reforma’ verdadeiramente estrutural que seria – será? – a inversão da tendência para o suicídio colectivo em que o país mergulhou há muito. Talvez o PSD venha recordar o discurso pró-natalidade feito por Passos Coelho no último Congresso do partido e o CDS invoque as políticas do ‘seu’ secretário de Estado dos Assuntos Fiscais a favor das famílias. Pouco importa. Sejam quais forem as razões que a explicam e o aproveitamento que dela se faça, esta é uma notícia que merece celebração.

O Pontal do CDS

É um exagero afirmar, como fez Catarina Martins, que o CDS morreu no Pontal. Há quatro décadas que, por uma razão ou por outra, o CDS está para morrer. E lá vai sobrevivendo. Mas a sua presença em peso na festa do PSD foi mais do que uma apresentação pública da lista conjunta de candidatos. Foi uma renovação dos votos num casamento que promete durar mais quatro anos. Se cumprirem nova legislatura, os dois partidos terão oito anos de vida em comum e, aos olhos dos portugueses, cada vez menos a distingui-los. A não ser… Paulo Portas. É ele que faz a diferença. No dia em que sair, o CDS terá um problema de sobrevivência agravado por este casamento.