"Eu identifiquei-me como missionário e não como padre", afirmou Agostinho Caridade, de 42 anos, durante a primeira sessão do julgamento.
O arguido, que responde pelos crimes de usurpação de funções, burla e furto qualificado, disse que esteve na igreja de Ovar no dia 31 de março de 2013, mas não celebrou nenhuma missa, como consta na acusação.
"Apenas me foi pedido para proclamar o evangelho e nada mais", assegurou o arguido, conhecido por "falso padre" por ter presidido a celebrações religiosas um pouco por todo o país sem estar habilitado para o efeito.
Agostinho Caridade admitiu, ainda, ter regressado àquela igreja, no dia seguinte, para pedir emprestado uma píxide (vaso onde se guardam as hóstias) e um cálice, para levar a sagrada comunhão à tia da sua ex-companheira, que se encontrava muito doente.
Questionado pela juíza presidente, o arguido explicou que não chegou a devolver os objetos, porque, no dia seguinte, teve de se deslocar à Alemanha, onde trabalhou como cozinheiro, tendo pedido a um conhecido para os guardar.
Quando regressou, foi detido no aeroporto de Lisboa, à ordem de outro processo, e nunca mais falou com a pessoa que ficou com as peças.
Perante o coletivo de juízes, Agostinho Caridade admitiu, ainda, ter celebrado "umas missas e três matrimónios" no passado, mas disse tratar-se de "uma situação pontual, que já está resolvida", afirmando não pretender voltar a falar nesse assunto.
O caso ocorreu por altura da Páscoa de 2013, quando o arguido conseguiu convencer um sacristão a entregar-lhe um cálice e duas píxides em prata trabalhada.
Segundo o despacho de acusação do Ministério Público (MP), a que a Lusa teve acesso, Agostinho Caridade chegou à igreja de Ovar trajando um hábito eclesiástico e apresentou-se como "padre Vítor", solicitando que lhe permitissem celebrar ali uma missa, o que aconteceu no dia 31 de março de 2013.
Dois dias mais tarde, o arguido voltou à igreja e pediu a um sacristão para lhe emprestar uma píxide e um cálice, para celebrar uma missa num lar de idosos, solicitação a que a aquele acedeu.
"Quando o sacristão se afastou para ir buscar um saco, o arguido, de modo não apurado, ocultou uma outra píxide que ali se encontrava", diz a acusação.
De acordo com a investigação, o arguido terá vendido estes objetos religiosos avaliados em 5 mil euros num estabelecimento de compra, venda e troca de artigos novos e usados, situado no Porto.
O MP diz que o arguido logrou convencer os funcionários daquela igreja e os respetivos paroquianos de que se tratava de um verdadeiro padre, pretendendo com isso, que lhe entregassem os referidos objetos como se de um empréstimo se tratasse, visando, logo à partida, fazer suas tais peças, como efetivamente fez.
Agostinho Caridade, que se encontra preso desde 2013, a cumprir uma pena de cinco anos e meio, já tem condenações anteriores por crimes de burla informática, burla qualificada, condução ilegal e usurpação de funções.
Lusa/SOL