2- Primeiro, é uma opção claramente errada. Estas pessoas que viram as suas poupanças aplicadas em negócios ruinosos, de alto risco e de legalidade duvidosa, por parte das maiores personalidades da finança portuguesa até há bem pouco tempo – é o trabalho de uma vida que foi soçobrado pela ganância e pela falta de ética de umas personalidades que se julgavam impunes da nossa sociedade. Têm, pois, razão para se sentirem indignados por Ricardo Salgado e restante equipa. E é contra Ricardo Salgado que os lesados se devem manifestar – não contra o Governo. Assim como as pessoas que sofrem assaltos em sua casa e roubos violentos se revoltam contra os ladrões – não contra a polícia. E como é que se reage em Estado de Direito democrático? Recorrendo-se aos tribunais para fazer valer os seus direitos. São os tribunais que avaliarão a legalidade da resolução do BES por parte do Governo -e só por essa via é que as poupanças dos antigos clientes do BES lesados poderão ser recuperadas, eventualmente com uma indemnização pelos danos causados.
3- Não é, pois, aos gritos e com ameaças à ordem pública e a outros cidadãos portugueses – porque os Ministros e os líderes políticos, por muitas críticas que lhe possamos dirigir – são, em primeiro lugar, cidadãos como nós. Somos contra qualquer tipo de violência e desordem pública. A ordem pública, e o direito de todas as formações políticas de fazer as iniciativas políticas que lhes aprouver e em segurança, é um elemento indispensável e crucial da democracia. Sem liberdade e segurança – não há democracia. Portanto, se os clientes se sentem lesados, então, devem recorrer aos tribunais e aí pleitear contra Ricardo Salgado e, eventualmente, contra as autoridades públicas. Gritar impropérios, ameaçar com violência e insultar a polícia – a instituição que separa a ordem da desordem, a sociedade equilibrada e sustentável da selva – é uma opção altamente censurável.
4- E é uma opção contraproducente: as imagens de caos, de ira e de apelo à desordem dos manifestantes no encerramento da Escola do CDS, em Esposende, com a tentativa de impedir a saída de Paulo Portas, viram a opinião pública contra a sua causa. O povo português é um povo pacífico, ordeiro e com grande apego à paz e segurança pública. Por conseguinte, todas as tentativas de criar confusão, de exercer coacção (ao menos, psíquica) ilegítima – são altamente censuradas por todos os portugueses. Discutir, debater, reclamar é uma coisa (salutar em democracia) – bater em carros, impedir a circulação, lançar medo sobre iniciativas políticas alheias é outra bem diferente. Pelo primeiro caminho, os manifestantes podem merecer a razão; pelo outro, o do protesto violento, os manifestantes só podem merecer a nossa reprovação.
5- Percebemos, e estamos solidários, com os lesados do BES: foram enganados por Ricardo Salgado e sua equipa. Mas Passos Coelho e Paulo Portas tinham alguma alternativa? Continuar o BES como estava, permitindo que os seus administradores e gestores enganassem ainda mais portugueses? Ninguém no seu perfeito juízo poderia defender tal cenário.
6- Deixar colapsar o BES? Seria lançar Portugal numa gravíssima situação económico-financeira, estimulando o encerramento de uma maioria muito significativa de pequenas e médias empresas, lançando milhares de portugueses para o desemprego. Ninguém com o mínimo de sensibilidade social e sentido de Estado poderia, alguma vez, defender tal cenário.
7- Seria nacionalizar o BES? Seria um meteoro orçamental, abrindo um buraco no Orçamento do Estado pior do que o buraco que ainda pagamos do BPN. Seria onerar variadíssimas gerações de portugueses, presentes e futuras. Ninguém que tem respeito pelo dinheiro dos contribuintes portugueses – trabalhadores honestos e cumpridores – poderia, alguma vez, defender tal solução.
8- Enfim, a Passos Coelho e a Paulo Portas compete zelar pelo interesse público, tomando a decisão que melhor sirva o interesse de Portugal e de todos os portugueses. Já os cidadãos que se sentem prejudicados pela decisão de resolução do BES têm um caminho: recorrer aos tribunais, esperando que se faça Justiça. E, politicamente, poderão criticar, apresentar soluções alternativas e, em última análise, votar em projectos políticos que defendam propostas diferentes para o seu problema.
9- Agora, violência, caos, desordem e “ataques” a carros de Ministros – nem pensar. Dessa forma, os manifestantes só ajudam Ricardo Salgado, desresponsabilizando-o e branqueando os seus actos de gestão danosa.