2. Duas notas preliminares se impõem sobre o debate: primeiro, este debate radiofónico foi bem melhor, na sua globalidade, que o debate televisivo. Mais aguerrido, mais dinâmico, com mais substância política, de parte a parte. Segunda nota: os jornalistas portugueses ainda não se adaptaram a este modelo de debate político partilhado por três estações e, logo, três jornalistas. Os nossos órgãos de comunicação social quiseram importar para a realidade política lusitana o modelo norte-americano – contudo, os moderadores e os directores das estações ainda precisam de ver muitas horas de gravações dos debates realizados entre os candidatos norte-americanos. Poderiam ver, por exemplo, o debate entre os candidatos republicanos transmitidos na FOX NEWS ou na CNN. O problema estrutural é que os políticos portugueses são bem diferentes dos políticos americanos: os políticos portugueses são muito palavrosos, preferem o confronto e a argumentação destrutiva (dizer mal do outro) do que a argumentação construtiva (puxar pelos méritos das respectivas propostas políticas). Os políticos americanos respeitam as regras e falam directamente para as objectivas das câmaras ou entram ordeiramente em discussão, ao passo que os políticos portugueses não seguem as regras pré-estabelecidas e preferem o confronto cara a cara, pois acham que, assim, transmitem uma ideia de virilidade política que os favorece.
3. Por outro lado, os jornalistas em Portugal, nos dois debates, cometeram um erro que prejudicou a discussão de ideias entre os candidatos: fazem perguntas excessivamente longas, com muitos detalhes, pouco objectivas. Tão longas e tão pouco claras que Passos Coelho e António Costa, às tantas, tinham de perguntar: “ esta questão é para quem”. Ora, isto corta a dinâmica do debate, desvia a atenção do espectador/ouvinte, leva à dispersão da resposta dos candidatos políticos. E, naturalmente, a meio do debate, os jornalistas perderam o controlo da condução do debate, passando a ser dominados por Passos Coelho e António Costa. As perguntas feitas pelos moderadores têm de ser claras, sintéticas, objectivas. Os protagonistas do debate são os contendores políticos – não os moderadores. Por outro lado, não conseguimos perceber por que razão os jornalistas interrompem sistematicamente as intervenções, sobretudo de Passos Coelho, para relembrar que o debate, passamos a citar, é sobre o futuro – e não sobre o passado. Então, mas o passado quer de Passos, quer de António Costa não interessa? Não interessa o que cada um fez? Nos países com maior tradição democrática do que Portugal não se discute o passado? Na Alemanha, no Reino Unido, até na Grécia, não se discute o passado, o que cada um fez e disse? E como podem os jornalistas interromper sistematicamente Passos Coelho por falar do passado de António Costa – quando é o próprio António Costa que fez da sua experiência em Lisboa o seu principal argumento político? Enfim, um aspecto a rever pelos jornalistas, e pelos directores das estações, no futuro…A bem da qualidade do debate democrático.
4. Posto isto, passemos à análise do debate. Quem venceu? É a pergunta que todos fazem. Pois bem, julgamos que, no que respeita a este debate, não há margem para qualquer dúvida: Passos Coelho derrotou, com larga margem, António Costa. Relembramos os leitores que, na nossa opinião, Passos Coelho venceu igualmente o primeiro debate. Porquê? Porque nós queremos contribuir para a construção de uma democracia portuguesa mais forte e saudável. Não nos interessa quem teve a frase mais assassina, a frase mais bonita, quem falou mais alto ou com voz mais grossa – interessa-nos, isso sim, quem apresentou uma argumentação sólida, com lógica e racionalidade, responsabilidade e Sentido de Estado. E Passos Coelho, no debate televisivo, falou com verdade, numa postura de estadista. António Costa seguiu os ensinamentos do seu mestre José Sócrates, apostando na imagem e nos truques televisivos. Em Portugal, como se viu, o método José Sócrates continua a encantar muitos dos comentadores televisivos e dos colunistas – mas, convém relembrar, que estes comentadores que atribuíram a vitória a António Costa são os mesmos que levaram José Sócrates ao colinho e permitiram que o pior Primeiro-Ministro da História de Portugal (o Vasco Gonçalves dos tempos modernos) nos levasse, serena e alegremente, à quase bancarrota.
5. Desta vez, contudo, só por facciosismo ou sectarismo indomável se poderia – mesmo que o fanatismo pró-PS seja muito! – dizer que António Costa ganhou o debate. Seria já brincar com a inteligência dos portugueses. Devemos confessar que nem nos nossos pensamentos mais remotos alguma vez equacionámos que o debate radiofónico corresse tão mal a António Costa. O líder do PS ( líder até dia 4 de Outubro) começou muito mal, com frases descabidas e a mostrar uma arrogância inqualificável. E mentiu aos portugueses de forma grosseira: António Costa foi buscar um artigo de Pedro Passos Coelho, publicado no “ The Wall Street Journal”, em que Passos Coelho escrevia que rejeitava o PEC IV porque este não resolvia os problemas estruturais de Portugal. Eram apenas umas medidazinhas para maquilhar os problemas de Portugal, perpetuando José Sócrates no poder. Daqui António Costa retirou que…Passos Coelho quis ir além da troika! Bem, se ir além da troika é evitar que Portugal caia na bancarrota, então, até nós queremos ir além da troika! Além disso, António Costa esqueceu-se de referir que nesse mesmo artigo publicado nos EUA, Passos Coelho escreveu que manteria as políticas sociais aliadas ao crescimento económico e contava com todos os partidos para reformar Portugal! Colaboração que sempre foi negada pelo PS, excepto em duas matérias muito importantes em que o PSD teve o apoio patriótico de António José Seguro! Porquê? Porque para o PS o mais relevante é ganhar votos e conquistar os lugares do Estado – Portugal é uma coisa que interessa muito pouco para os socialistas…Retenhamos: para António Costa, vale tudo para defender o legado de José Sócrates. Agora, até recuperar a narrativa do PEC IV!
6. Mas a derrota trágica de António Costa ocorreu mais adiante no debate. Em dois pontos precisos: Segurança Social e na exaltação do seu passado como Presidente da Câmara Municipal de Lisboa. Quanto à Segurança Social, António Costa foi um verdadeiro desastre. Como nós já analisámos aquando do primeiro debate, António Costa desconhece o seu próprio programa: não está à vontade com os números que avança, desconhece os métodos usados pelo seu “grupo de economistas”, não consegue desenvolver argumentos. Parece que, como notaram os “Gato Fedorento”, nem mesmo a pastinha de António Costa o salvou. Senão, vejamos.
7. António Costa prossegue na sua ideia irresponsável e perigosíssima para todos os pensionistas de reduzir a TSU para incrementar o consumo dos portugueses e utilizar um fundo de emergência da Segurança Social que, por natureza, só poderá ser utilizado em caso de emergência e necessidade, para…imagine-se…realizar obras de reabilitação urbana! Sim, dar uns retoques em casas já existentes para as arrendar! Com o dinheiro que seria destinado às nossas pensões…É a velha socialista e socrática: utilizamos o dinheiro para arranjar umas casinhas – depois tu lá resolves como arranjar dinheiro para a tua pensão! E em vez de humildemente reconhecer o disparate que é a sua proposta, António Costa persiste no erro! É a obsessão socrática no seu melhor – o discípulo está à altura do mestre.
8. Pior: António Costa refere que precisamos de uma reforma de fundo na Segurança Social. E qual é essa reforma? Reduzir a TSU de todos os trabalhadores para estimular o consumo. No entanto, contradiz-se: diz que esta não é uma medida estrutural – é apenas uma medida conjuntural para aumentar o consumo. Então, e quanto à reforma estrutural que o próprio Costa diz ser necessária? Nem uma palavra. Ou seja, António Costa quer resolver um problema estrutural com uma…medida conjuntural. A proposta de Costa para proteger a sua pensão é…aumentar o consumo no presente! Isto faz algum sentido? A não ser que António Costa, como já escrevemos e inexplicavelmente ninguém lhe colocou a questão, tem uma reforma estrutural guardada na manga…O que esconde António Costa? Porque esconde António Costa o seu plano – honesto e intelectualmente sério – para a Segurança Social?
9. Por outro lado, Passos Coelho explorou muito bem as fragilidades de Costa em matéria de segurança social. António Costa defende que as prestações não contributivas teriam de participar no esforço de contenção da Segurança Social, o que significa que a redução da TSU seria compensada pela redução ou actualização das pensões não contributivas. O que significa isto? António Costa fugiu da resposta como o diabo fugiu da cruz. O leitor já percebeu porquê…está escondido na manga para depois das eleições. E confrontado com a insistência de Passos Coelho em saber que pensões serão essas, António Costa respondeu de forma muito elucidativa: “ logo se vê. É matéria de concertação social”. Como é possível tamanho descaramento? Como é possível brincar com os portugueses desta forma? António Costa sabe que pensões quer reduzir – não quer e dizer para não perder votos! Como é possível que ninguém lhe pergunte qual o seu verdadeiro plano para as pensões dos portugueses?
10. Quanto à questão da Câmara Municipal de Lisboa, Passos Coelho matou o mito que existia sobre a competência de António Costa como Presidente de Câmara. Para os cidadãos lisboetas, é fácil constatar que hoje vive-se muito pior em Lisboa do que noutros tempos. Um dia saber-se-á o verdadeiro legado de Costa à frente de Lisboa. No que respeita à dívida, está tudo dito – foi o Estado que teve de assumir a dívida da Câmara, permitindo a António Costa auto-elogiar-se pelo feito alcançado. Não deixa de ser irónico notar que o Presidente da Câmara Municipal de Lisboa, António Costa, vende os terrenos e consegue o seu feito político mais relevante com a privatização da ANA; o líder do PS, António Costa, diz que a privatização da ANA é um crime nacional e que, por princípio, é contra as privatizações…então, em que ficamos? É favor ou é contra? E se é contra, porque elogia tanto a medida?
11. Em suma, Passos Coelho apresentou-se hoje com uma atitude ambiciosa, serena, institucional, mas aguerrida. Juntando ao seu conteúdo – que provou ser bastante melhor do que o de António Costa em ambos os debates – , a forma política necessária para que os portugueses percebam que Passos é hoje, por muito que possamos discordar de algumas das suas ideias ou achar que o seu feitio é aborrecido, o sinónimo de Esperança e Futuro para todos os portugueses.
12. Não há dúvidas: Passos Coelho goleou António Costa. António Costa, e o PS, foram ao tapete. Julgamos que já não terão tempo para recuperar.