Coligação atira ao centro e acusa António Costa de demagogia e radicalismo

Com sondagens para todos os gostos, a coligação Portugal à Frente tem um alvo para os 15 dias da campanha que começa este domingo: o eleitorado do centro.

Para isso, Pedro Passos Coelho e Paulo Portas têm um discurso que contou com a ajuda do anúncio de António Costa de que não tenciona viabilizar um Orçamento de um governo da coligação. A afirmação do líder do PS serviu durante todo o último dia de pré-campanha para identificar Costa como um político radical. Mas não é só: Passos e Portas querem provar que Costa é demagógico quando não reconhece os bons indicadores económicos. E querem tranquilizar aqueles que acham que a PàF vai privatizar o Estado Social.

‘Não se metam em aventuras’, diz Portas

“A campanha do principal líder da oposição tem sido pautada por um lado pela demagogia por outro pelo radicalismo”, lançou Portas num jantar com militantes em Santarém, onde o líder do CDS lembrou que “faltar à verdade não acrescenta um voto ao dr. António Costa” e que anunciar que “logo a seguir ao voto do povo começa o bota-abaixo” é algo que “assusta” o eleitorado moderado que quer estabilidade.

“Não se metam em aventuras, confiem no que é confiável”, aconselhou o líder centrista, que deu indicações às hostes da coligação sobre como convencer os indecisos.

“Falar à inteligência e ao coração” e “saber explicar o que sucedeu em 2011 e o que é governar uma casa a arder” são, segundo Paulo Portas, as fórmulas que os militantes e PSD e CDS devem usar se querem superar o empate técnico que mostram as sondagens, conquistando mais votos.

‘Estado social está melhor do que em 2011’, assegura Passos

Para acalmar os que vêm na coligação uma força que foi além da troika, Passos Coelho assegura que não governará com um programa neo-liberal.

“Cuidámos de responder à emergência social, não foi só à emergência económica”, defendeu o primeiro-ministro que promete manter o Estado Social.

“Agora há quem venha com o espantalho de que queremos fazer a privatização, a privatização da Segurança Social, a privatização do Serviço Nacional de Saúde, a privatização da Educação”, disse, assegurando que os seus opositores “escusam de agitar esse espantalho” porque “o Estado Social está hoje de melhor saúde do que em 2011”.

Passos puxa até dos galões da sua capacidade de concertação social para mostrar que não está numa direita radical. “Fizemos um acordo de concertação social no pico da crise”, frisou.

O discurso da ‘velha política’ e a promessa de consensos

“Nós não podemos obrigar todos os políticos a aprender com os erros do passado, mas todos os portugueses podem ajudar a que tenham melhor memória”, afirmou Pedro Passos Coelho, que cada vez mais repete a expressão “velha política” e evita para já nomear Sócrates, depois de isso lhe ter custado a derrota no frente-a-frente televisivo com António Costa.

“Se queremos fugir realmente àquilo que parece um fatalismo que é de tantos em tantos anos chegarmos à conclusão de que os políticos que nos governam só estão preocupados com o dia seguinte (..) então temos de mudar a atitude da velha política que sempre nos conduziu a esses resultados”, atirou perante um pavilhão cheio de militantes da coligação.

“Podemos escolher regressar ao que éramos, à velha política, à velha demagogia. Ou podemos olhar para a frente e dizer: Não voltará a acontecer”, resumiu, depois de sublinhar outro aspeto que tem feito parte do discurso da coligação de forma cada vez mais insistente: a necessidade de conseguir construir consensos políticos.

Passos chega mesmo a dizer que sonha com “um futuro em que possamos pôr as divergências políticas de lado e possamos pôr acima de tudo os interesses dos portugueses e de Portugal” e não “premiar a demagogia”.

“Essa escolha cabe-vos a vós”, lançou. Está lançado o repto para 15 dias de campanha oficial que começam este domingo em Sintra.

margarida.davim@sol.pt