2. Parece que foi ontem que saiu para as bancas a primeira edição do jornal SOL, o que prova que a vida é uma passagem frenética. Como o tempo psicológico é tão diferente do tempo cronológico! Hoje, ontem, há quatro anos, há nove anos…como é tudo tão idêntico na nossa memória! No fundo, porque o tempo psicológico tem uma relação muito complexa com o tempo cronológico: ao mesmo tempo que quer que o tempo cronológico passe (o ser humano estando, nunca está: é insaciável por natureza), o tempo psicológico quer conter, a todo o custo, a passagem do tempo cronológico. Porventura (também) estará aqui a chave ou a razão da complexidade do ser humano…
3. Pois bem, lembramo-nos como se fosse ontem o lançamento do SOL: saiu a um sábado (era este o dia inicial de publicação do semanário), depois de o seu director, José António Saraiva, ter sido entrevistado, na quinta-feira anterior, por Judite de Sousa na Grande Entrevista (transmitido na RTP 1). Nesta entrevista, José António Saraiva explicou a filosofia do SOL, seus objectivos e anunciou que seria um jornal inovador. Na verdade, o SOL acabou mesmo por inovar: ao contrário do EXPRESSO, o SOL pretendia cobrir diversas matérias (não se limitando à política e/ou à economia), desde o cinema, ao sexo (contava então com a contribuição de Margarida Rebelo Pinto), passando pelo lifestyle. Era um projecto de semanário conjugando as características típicas de broadsheet, com algumas características associadas aos tablóides.
4. Na verdade, o SOL não foi apenas inovador – o SOL foi o mais recente momento de transformação da comunicação social portuguesa. Desde então, não ocorreu nenhum outro facto tão impactante no panorama da imprensa em Portugal. Porque o SOL, ao arrojar e ousar, teve um efeito sistémico em todos os jornais. Embora não tenha surgido qualquer outro jornal novo desde o lançamento do SOL – com a excepção do “i”, lançado em 2008 ligado ao Grupo Lena ou do “Observador” que é uma realidade muito própria, para um nicho moderno e cosmopolita, mas ainda pequeno – , todos os jornais já implementados em Portugal mudaram. E mudaram muito.
5. Exemplos: o Expresso de hoje, o Expresso desde o lançamento do SOL, nada tem que ver com o Expresso anterior à era do SOL. Porquê? Porque Francisco Pinto Balsemão sabia que o mercado estava a mudar; sabia que o modelo do Expresso, de broadsheet puro, com muito papel, muito pesado, muito formal e clássico, estava desalinhado com as tendências de mercado; sabia, enfim, que a equipa fundadora do SOL conhecia à exaustão o mercado português, as necessidades e os desejos dos leitores portugueses e conhecia muito bem os segredos e a política do Expresso – portanto, Balsemão tinha exacta noção de que teria de correr atrás do prejuízo. Recorde-se que o Expresso lançou então, e coincidindo com o lançamento do SOL, uma mega operação de marketing, alterando o seu design e oferecendo dvd’s com o jornal (no dia em que saiu o SOL, o Expresso ofereceu o filme “Lost in Translation” de Sofia Coppola com Scarlett Johanson). O que prova o impacto (e o medo) que o SOL – há 9 anos, custa a acreditar, não é? – provocou na concorrência. Poucos meses depois, o Público promoveu igualmente uma profunda mudança, no design e nos conteúdos, incluindo um segundo suplemento, mais ligeiro. Ou seja: o SOL agiu; os outros jornais de referência reagiram. Só por este facto, o SOL já entrara para a História.
6. Nós lembramo-nos exactamente do dia em que saiu o SOL – estávamos a iniciar o 12.º ano em Aveiro e ficámos muito impressionados com uma reportagem na TABU sobre erros no reconhecimento de crianças em hospitais e um estudo e sondagem sobre a popularidade dos Presidentes da República (o que, aliás, motivou uma crónica nossa em órgão de comunicação social regional de Aveiro e um trabalho para a disciplina de Introdução ao Direito). O SOL teve um impacto – temos de admitir – na economia doméstica, pois lá em casa se equacionou qual a melhor opção: ou manter a tradição de adquirir o Expresso, no seu novo modelo, seguindo a tradição familiar; ou adquirir o SOL, inovador e original, projecto sem precedentes na história da comunicação social em Portugal. Qual foi a opção? Foi uma decisão salomónica: para reduzir os custos de ponderação e os custos de transacção, decidimos adquirir ambos – o SOL e , para manter a tradição, o Expresso (que continua com o vício incurável de trazer papelada a mais…).
Posto isto, quais são, então, os nove factos, um por cada ano de aniversário, do SOL, mais marcantes da existência do semanário? Apontamos os seguintes:
1) A inovação, a originalidade e o profissionalismo que o SOL apresentou desde o primeiro dia de existência (e de pré-existência) que, como já explicámos, revolucionou o panorama da comunicação social em Portugal;
2) A influência que o SOL teve junto do poder político, económico, cultural, desportivo e social em Portugal – basta recordar o evento de comemoração do primeiro aniversário do SOL que juntou os rostos de poder em Portugal;
3) A capacidade de escrutínio que o SOL revelou ao denunciar os projectos faraónicos do Governo de José Sócrates (ainda o primeiro Governo, quando até o PSD parecia levar Sócrates ao “colinho”…) e a descoordenação ao mais alto nível de decisão política – por exemplo, na questão do TGV e da construção do novo aeroporto;
4) Dar novo protagonismo à imprensa escrita, reforçando as crónicas muito apreciadas de José António Saraiva (que até escreveu um pequeno romance em Banda Desenhada, na TABU), mantendo as crónicas na última página – tradição que já vinha do Expresso – de José António Lima – e indo buscar Marcelo Rebelo de Sousa, afastado da imprensa escrita há praticamente 20 anos;
5) Ousadia e criatividade nos comentários. O SOL teve a ousadia de publicar crónicas de Marcelo Rebelo de Sousa em tom intimista e pessoal (e não de mera análise política); de Paulo Portas, sobre cinema, revelando um lado de Portas menos público; mais tarde, promovendo o regresso à imprensa escrita de Vicente Jorge Silva.
6) Painel de comentadores de elevada qualidade e relevância cívica. Se atentarmos bem, o SOL já teve, entre os seus colaboradores, Marcelo Rebelo de Sousa, Paulo Portas, Pedro Santana Lopes – ou seja, o mais que provável próximo Presidente da República; o actual e futuro Vice-Primeiro-Ministro; e o ex-Primeiro-Ministro e quase candidato à Câmara Municipal de Lisboa. É obra!
7) A resiliência que o SOL revelou quando foi alvo de ataques vis e ferozes de José Sócrates e seus correligionários políticos. O SOL foi um dos únicos (e certamente o principal) que investigou e não teve medo de publicar a triste realidade dos anos socráticos, o período mais negro da história da democracia portuguesa. Lembramos que até instituições financeiras, cujas equipas foram devidamente “reforçadas” com socráticos de altíssimos valores, foram instrumentalizadas para “matar” o SOL. O SOL, no entanto, resistiu;
8) A capacidade de adaptação do SOL, que teve de se reestruturar após a guerra levada a cabo por José Sócrates contra o jornal. O SOL não só não se extinguiu, como se reforçou, entrando nas novas plataformas e com um projecto vocacionado para a lusofonia. Sendo, também aqui, profundamente inovador;
9) O SOL afirmou-se como o baluarte jornalístico da defesa do pluralismo democrático, da tolerância e, sobretudo, da liberdade. Não da liberdade formal, muito comum em Portugal – mas da liberdade material, da liberdade concreta, da liberdade de cada cidadão fazer as suas escolhas com responsabilidade. Hoje, é impensável pensar na comunicação social portuguesa sem a presença activa do SOL.
Por último, já que este é um testemunho pessoal, temos de incluir aqui um outro facto: a nossa colaboração com o SOL, desde Agosto de 2014. Subjectivamente, para nós, é um facto muito marcante, pela honra e pela responsabilidade que acarreta.
Parabéns SOL! E que viva por muitos anos!