Xeque-mate a López

Treze anos, nove meses e sete dias de prisão. A sentença afasta das eleições legislativas de 6 de dezembro Leopoldo López, líder de um dos partidos da oposição na Venezuela e rosto das manifestações de 2014, que levaram milhares para as ruas a exigir a demissão do Presidente Nicolás Maduro. Da prisão, López convocou por…

A menos de três meses das eleições, a condenação de López suscitou críticas da comunidade internacional. O mediático dirigente da Vontade Popular enfrentou um julgamento à porta fechada, acusado de incitamento à violência durante os protestos do ano passado, que resultaram na morte de 43 pessoas – entre civis e agentes da autoridade.

López entregou-se em fevereiro, apelando à paz, e passou o último ano e meio quase exclusivamente em regime de solitária, na prisão militar de Ramo Verde, segundo os seus advogados.

Os mesmos que denunciaram, num artigo da Foreign Policy, o julgamento conduzido por Susana Barreiros. A juíza permitiu, por exemplo, que «a acusação tivesse mais de 70 audiências com 108 testemunhas, o que consumiu mais de 600 horas de tempo de tribunal. Nem uma testemunha colocou López no local dos alegados crimes». Já sobre as testemunhas da defesa, garantem que «59 das 60 foram rejeitadas pelo tribunal e a outra recusou comparecer».

 As organizações de defesa dos direitos humanos foram duras nas críticas. O diretor da delegação das Américas da Human Rights Watch falou em «farsa» judicial e «clara manipulação» do julgamento. A colega da Amnistia Internacional resumiu a razão da sentença de López: «O único ‘crime’ dele foi ser líder de um partido da oposição na Venezuela».

Também John Kerry alertou que Caracas está a usar o sistema judicial para «suprimir e punir» os críticos. O secretário de Estado norte-americano, que tentava com a homóloga venezuelana uma aproximação entre os dois países, bem pode ter deitado por terra os esforços diplomáticos. Delcy Rodríguez reagiu mal à «intromissão insolente» de Washington.

Sondagens penalizam Maduro

Caracas não admite espaço para críticas, numa altura em que se agudiza a crise. Há falta de bens essenciais nas prateleiras dos supermercados, faz-se fila para comprar (de forma racionada) até papel higiénico, a inflação tornou a gestão do orçamento familiar um quebra-cabeças, a criminalidade sobe.

Continuam a ser estes os maiores problemas do dia-a-dia – e já o eram nas manifestações do ano passado – para os milhões que podem, no dia 6 de dezembro, castigar o Partido Socialista Unido de Venezuela de Nicolás Maduro. Uma sondagem da Datánalisis do final de agosto revela que 70,4% dos inquiridos avaliam de forma negativa a gestão do Presidente e que 57,7% estão dispostos a apoiar candidatos da oposição.

Uma derrota do PSUV seria a primeira para os chavistas desde 1999. Com nove líderes impedidos de ir a votos, a oposição tentará passar uma imagem de união e capitalizar votos com o quotidiano depauperado dos venezuelanos. 

ana.c.camara@sol.pt