O programa, que consistiu numa intervenção em 31 mulheres com idades entre 18 e 55 anos com obesidade ou excesso de peso, registou uma "eliminação dos episódios de ingestão compulsiva" na maior parte das participantes e, numa pequena parte, "os episódios ficaram diminuídos a níveis subclínicos, passando a ser menos frequentes", disse à agência Lusa um dos investigadores do projeto, Sérgio Carvalho.
O "Befree" teve como objetivo fornecer, ao longo de 12 sessões durante três meses, "um conjunto de competências" para as mulheres "lidarem de forma mais eficaz com as suas emoções", sublinhou, acrescentando que, nos episódios de ingestão compulsiva, a comida surge como uma forma de diminuir "afetos negativos", como a tristeza ou a ansiedade.
Para além da eliminação dos episódios de ingestão compulsiva, os investigadores constataram que houve "também ganhos secundários", em comparação com as 25 mulheres que permaneceram na lista de espera e que não estavam integradas no programa desenvolvido por uma equipa do Centro de Investigação do Núcleo de Estudos e Intervenção Cognitivo-Comportamental (CINEICC) da Universidade de Coimbra.
No final do projeto, as participantes "apresentaram uma sintomatologia depressiva inferior às da lista de espera, um aumento de bem-estar e qualidade de vida, mais sentimentos de segurança e uma diminuição da autodesvalorização", frisou Sérgio Carvalho.
Também se registou uma diminuição "da perceção de discriminação e da vergonha" por parte das participantes, que, no final do "Befree", eram "menos autocríticas" em relação a elas próprias, aumentando "os sentimentos mais relacionados com a autocompaixão".
Durante os três meses de programa, houve "fornecimento de informação sobre comportamento alimentar", sessões sobre "o funcionamento da mente" e outro conjunto de sessões "de desenvolvimento de competências que permitem regular de forma mais eficaz as emoções", explanou Sérgio Carvalho.
Nessas sessões, foram integrados um conjunto de exercícios que, apesar de serem complementares entre si, "nunca tinham sido interligados", salientou.
O investigador referiu que a equipa pretende continuar a aplicar o programa para "chegar ao maior número de mulheres possível", para garantir "conclusões mais rigorosas e robustas".
Sérgio Carvalho afirmou ainda que a integração do programa no Serviço Nacional de Saúde "seria importante, pelo menos em consultas específicas de obesidade".
Os resultados do projeto serão apresentados no primeiro dia do Congresso Internacional de Obesidade e Ingestão Alimentar Compulsiva, que vai decorrer no auditório principal da Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade de Coimbra, na sexta-feira e no sábado.
Lusa/SOL