Na Liga Europa, Portugal continua a estar bem representado com Paulo Sousa (Fiorentina), Leonardo Jardim (Mónaco), Vítor Pereira (Fenerbahce), Jorge Jesus (Sporting), Sá Pinto (Belenenses) e Paulo Fonseca (Sp. Braga).
O sentimento de alegria vem pelo facto de não ser de agora que os treinadores de futebol portugueses são sinónimo de qualidade e competência. Ainda que nem todos tenham uma auréola ‘especial’, nem o toque de Midas para produzir resultados com equipas que não estão na pole position para ganhar as referidas provas, todos eles revelaram, desde há muito, condições para ombrear com equipas teoricamente mais fortes, com orçamentos superiores ou com maior experiência internacional. Razões pelas quais o seu mérito profissional deve aqui ser enaltecido e reconhecido.
O sentimento de tristeza advém, como se viu pelo elenco, do facto de apenas um, em condições teoricamente normais, ter maiores probabilidades de, novamente, vencer uma prova que já conquistou por mais do que uma vez e por mais do que um clube. Na verdade, o nosso Special One, com maior ou menor crise interna, desde há muito demonstrou uma especial apetência para vencer esta prova, e pela performance da equipa na Premier League até aqui poderá vir a ser o seu principal objetivo desportivo na presente época.
Quanto à Liga Europa, apesar da derrota do Sporting na 1.ª jornada, poderá ainda aspirar a ir longe, mas não considero nenhuma das equipas treinadas por técnicos portugueses como principais candidatas a vencer uma prova que, esta época, pela sua estrutura competitiva, promete desfecho imprevisível.
Julgo que, muito em breve, será natural ter mais treinadores portugueses nos principais clubes das cinco principais ligas europeias, atendendo ao bom trabalho que têm vindo a realizar.
Todavia, há algo mais importante que os treinadores podem aproveitar nestas complexas competições desportivas europeias, que se situa no domínio da sua exclusiva competência.
O papel de treinador deixou de ser meramente de orientação técnica, escolha de jogadores, escolha de modelo tático e de filosofia de jogo, ou de formação desportiva. Um treinador, hoje em dia, gere sobretudo recursos humanos de carácter especial, que são ‘apenas’ os maiores ativos financeiros das empresas/SAD que dirigem e dos quais, todos sem qualquer exceção, dependem.
O treinador de um clube português de futebol do Sec. XXI monta, desmonta e organiza equipas tendo em vista obter o sucesso desportivo. Porém, esta intrincada gestão de recursos humanos terá também de visar a valorização de jogadores, a obtenção da sua melhor performance em competições de alto rendimento, apontando a realização de uma eventual futura transferência e obtenção de valores essenciais para o equilíbrio financeiro das equipas portuguesas, que são, no essencial, exportadoras dos seus melhores talentos desportivos em cada janela de transferências.
No fundo, o treinador é cada vez mais um líder executivo, que assume a gestão desportiva diária de um clube, potencializa o plantel que tem à disposição e tenta manter a melhor performance da equipa, mesmo que sejam vendidos, ano após ano, jogadores considerados essenciais em momentos anteriores. E faz tudo isto enquanto é fiscalizado, permanentemente, pelo Conselho de Administração, bem como pelos resultados obtidos nas diversas competições em que participa.
Como se sabe, no mundo empresarial, o CEO é o cargo que está no topo da hierarquia operacional de uma sociedade. Ele possui a responsabilidade de executar as diretrizes propostas pelo Conselho de Administração, que por sua vez é composto por representantes dos acionistas da empresa. O CEO é a pessoa com maior autoridade na hierarquia operacional de uma organização e o responsável pelas estratégias e pela visão da empresa.
Tudo isto não muda muito no âmbito do Desporto Profissional. Face ao exposto, um treinador acaba por ser o novo CEO do Desporto profissional, incumbindo-lhe a responsabilidade pelo acompanhamento rotineiro e eficiente do ‘negócio’, e com a função adicional de reportar regularmente todas as operações da empresa ao Conselho de Administração e de lhe demonstrar a sua visão para o futuro desportivo do clube/SAD.
São as suas escolhas diárias, opções por determinados jogadores ou modelos de jogo, vitórias ou derrotas, que determinam os sucessos desportivos do clube/SAD e que são acompanhados, necessariamente, pela obtenção de resultados financeiros essenciais para as contas dos clubes e que influenciam a sua cotação na Bolsa de Mercados de Valores Mobiliários ou o valor da marca que representa.
O novo CEO do Desporto Profissional tem de ser capaz de maximizar a riqueza dos acionistas da SAD a curto prazo, com um elevado nível de risco. Contudo, o futebol é um desporto cuja grandeza, espetacularidade e dimensão económica o torna no maior fenómeno dos nossos dias, e em que o fator tempo – ou a falta dele – é muitas vezes prejudicial à execução do trabalho do treinador e à solidificação de resultados.
Há quem diga que um bom treinador tem de ter três coisas essenciais: ser líder, saber comunicar e, se possível, ser culto. Mas nos tempos modernos, para além dos vulgares resultados desportivos pelo qual é escrutinado, tem também de ser um gestor potenciador de importantes resultados financeiros através da superação e motivação dos seus recursos humanos, deixando um legado desportivo em jovens atletas, suscetível de ser capitalizado em curto prazo.
Para além deste, existe outro aspeto em que julgo que o treinador português é distinto dos demais, pois está habituado, desde cedo, no nosso burgo, a ultrapassar maiores dificuldades que os demais de outros países para atingir resultados desportivos idênticos.
*Docente de Direito do Desporto na Universidade Lusíada de Lisboa