Passos e Portas enfrentam dia complicado, apertados por números

Ao décimo dia de campanha, duas pedras no sapato da coligação: a notícia da Antena1 sobre uma alteração à estimativa das imparidades do BPN nas contas da Parvalorem e uma subida de 0,1% no desemprego. Passos e Portas foram obrigados a reagir, com o primeiro-ministro a ficar com a tarefa de defender Maria Luís Albuquerque…

O picante da campanha

“Ninguém pediu para ocultar as contas”, afirmou Passos Coelho, em Catanhede à margem de uma visita à empresa Crioestaminal. O assunto perseguia-o desde a manhã, que começou numa fábrica de azeitonas, picles e piripíri em Mira. “O picante do dia não tem assim tanto picante”, ia dizendo o líder da PàF, enquanto olhava para os frascos de malaguetas e remetia para mais tarde a reação à notícia de que Maria Luís, como secretária de Estado, tinha pedido à administração da Parvalorem para rever em baixa uma estimativa de imparidades.

A garantia de Passos é de que o Governo “não martelou as contas”, explicando que “a transparência é total” e o que foi feito foi apenas recomendar uma revisão de uma estimativa que, na altura, “pareceu” a Maria Luís Albuquerque “demasiado pessimista”. Nada irregular, portanto.

O que Passos não esclareceu foi se o exercício veio a dar razão à estimativa inicial da administração ou ao valor que ficou nas contas depois da recomendação de Maria Luís Albuquerque.

Candidato por Coimbra – o distrito por onde hoje anda a caravana da PàF –, o secretário de Estado das Finanças, Manuel Rodrigues até fazia parte da comitiva, mas evitou falar do assunto, alegando ao SOL desconhecer em pormenor o dossiê. “O que posso garantir, como professor de Finanças, é que as estimativas de imparidades são processos normais e regulares”, afirmou.

Na mesma linha, Passos Coelho tinha já defendido a competência da então secretária de Estado na forma como geriu o assunto. “Eu teria feito exatamente a mesma coisa”, sublinhou, lembrando que o Governo o que fez foi “uma participação à Procuradoria Geral da República”, quando detetou “imparidades que não foram registadas”.

A resposta de Passos foi o mais cabal possível, mas ficou visível o incómodo com a notícia entre a comitiva que, de resto, antecipa que apareçam mais “casos” até sexta. “Até ao fim vai ser assim”, comentava-se na direção da campanha.

Passos e Portas em sintonia

Feita a reação à polémica do dia, Passos Coelho passou a bola a Paulo Portas para fazer as despesas de mais uma explicação. Tem sido sempre assim: os líderes estão alinhados e funcionam em equipa, muitas vezes com a preocupação de resguardar Passos e aproveitar a mestria de Portas no que toca à comunicação.

Com os números divulgados esta terça-feira a mostrarem o desemprego a subir 0,1%, o líder do CDS prefere olhar para a tendência. “O número é francamente bom comparado com o do ano passado”, atirou Portas, para lembrar que a subida se regista face ao mês anterior. “Não é tão bom comparado com o mês passado”, disse, voltando a lembrar que este Governo ‘herdou’ 662 mil portugueses no desemprego e, quatro anos depois, esse número é “umas dezenas de milhares mais baixo”.

Com uma agenda passada em visitas a empresas, que culminará num jantar comício em Coimbra, a coligação continua apostada em minimizar as hipóteses de erro. O dia seria, aliás, quase à prova de erro, não fossem a notícia da Antena1 e os dados do desemprego.

A mensagem, essa, é agora repetida quase à exaustão. Não há novidades. Passos defende o Estado social e pede estabilidade para governar. Portas explica que só essa estabilidade gerará a confiança que atrairá investimento para que haja emprego. António Costa quase desapareceu do discurso. O objetivo é mostrar “moderação” e disponibilidade para o diálogo e, acima de tudo, não dar nada como ganho.

margarida.davim@sol.pt