PS, Costa e as comparações embaraçosas com a Grécia

As eleições gregas do passado domingo foram o espelho do crescente descrédito em que mergulharam as forças partidárias. Os socialistas do Pasok estão reduzidos a um pequeno grupo de 6,3% (ainda em 2009 tinham uma maioria absoluta de 43,9%…) e os conservadores da Nova Democracia não conseguem chegar aos 30% – continuam, ambos, a pagar…

Sobra, por enquanto, a esquerda radical do Syriza, que voltou a vencer as eleições (com claros 35,5%). É certo que Alexis Tsipas está a fazer o contrário do que estava no seu programa e do que prometera, apelou à vitória do ‘Não’ no referendo e no dia seguinte aplicou o ‘Sim’, acabou a ceder em toda a linha à troika e a pedir o terceiro resgate financeiro da Grécia – mas parece ser o único, após cinco anos de austeridade e sacrifícios, que muitos gregos ainda veem como capaz de fazer frente às imposições dos credores.

Convém perceber, no entanto, que em oito meses, entre as legislativas de janeiro e estas de setembro, já houve mais 700 mil eleitores gregos desiludidos a optarem pela abstenção. E o próprio Syriza viu fugir-lhe quase 15% (320 mil votantes) da sua base eleitoral de janeiro. É uma tendência de perda de confiança que pode tornar-se imparável nos próximos meses, quando o Governo do Syriza começar a levar à prática as duras medidas de austeridade do terceiro resgate.

Em Portugal, António Costa já não saudou a vitória do Syriza como «um sinal de mudança que dá força», a exemplo do que fez em janeiro. Mas esqueceu-se, mais uma vez, de se solidarizar com os seus camaradas socialistas do Pasok (que até subiram de 4,7% para 6,3%). E, para evitar mais comparações embaraçosas, Costa determinou agora que «o que se discute em Portugal não tem nada a ver com o que se discute na Grécia».

Está bem enganado. Tem tudo a ver: austeridade e crescimento, despesismo público e défice, bancarrota e troika, reformas e sustentabilidade da Segurança Social, aumento de impostos e privatizações. É isto que se discute, hoje, na Grécia. Tal como em Portugal.

Por muito incómoda que esta discussão seja para o PS. E para António Costa.

Artigo publicado na edição impressa do SOL de 25 de setembro 

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