“Há 105 anos, nesta varanda da Câmara Municipal de Lisboa, foi proclamada a República Portuguesa. Celebrar hoje essa data não é um olhar sobre o passado, é uma afirmação sobre o futuro que queremos ser”, disse Fernando Medina, que falava na cerimónia solene do 105.º aniversário da implantação da República, no salão nobre dos Paços do Concelho, sem a presença do chefe de Estado, Cavaco Silva.
O responsável frisou que, com a implantação da República, se afirmaram valores como a liberdade, a igualdade e a fraternidade, proclamando-se, ao mesmo tempo, “causas como a educação, a saúde pública, os direitos das mulheres, o sufrágio universal ou o municipalismo”.
Fernando Medina destacou, na sua intervenção, que estes “sucessos e progressos da democracia têm muitos rostos”, como é o caso dos ex-Presidentes da República Mário Soares e Jorge Sampaio.
Acresce que, “em democracia, a lei do divórcio e, mais recentemente, a despenalização da interrupção voluntária da gravidez e o direito ao casamento entre pessoas do mesmo sexo representaram avanços civilizacionais no sentido da autonomia e das liberdades cívicas”, assinalou.
Para Medina, “o sucesso da […] democracia está na cultura de compromisso e de convergência política e social em torno de matérias fundamentais”, o que a seu ver nem sempre se verificou.
“Os últimos anos foram tempos de crispação e de rutura, mas os próximos não o poderão ser mais”, frisou o autarca socialista, realçando que “a situação económica e financeira do país permanece muito frágil”, devido ao desemprego, pobreza e emigração.
“Isto significa que, mais do que noutros momentos, é essencial fazer deste novo ciclo político que agora se abre um novo ciclo de compromissos estratégicos tendo em vista o progresso social” do país, adiantou.
Falando aos jornalistas à margem da cerimónia, Medina insistiu que os portugueses “votaram maioritariamente por uma mudança de política e votaram também ao não dar maioria absoluta a nenhum dos partidos”, obrigando-os “a conversar uns com os outros e a entenderem-se”.
Questionado sobre a disponibilidade do PCP para uma maioria de esquerda, o presidente do município de Lisboa considerou “ótimo” que “toda a gente [possa] participar para soluções de governabilidade e para as soluções do país”.
“Se têm essa disponibilidade, acho que sabem onde é a morada e podem ir lá”, argumentou.
Na cerimónia, não estiveram presentes nem o Presidente da República, Aníbal Cavaco Silva, nem o primeiro-ministro, Pedro Passos Coelho. Também António Costa, líder do PS, e Paulo Portas, presidente do CDS-PP, não marcaram presença na cerimónia.
Na quinta-feira, fonte oficial de Belém justificou à Lusa a ausência com a necessidade de Cavaco Silva "se concentrar na reflexão sobre as decisões que terá de tomar" nos dias seguintes, numa referência ao pós-eleições.
Lusa/SOL