É oficial: Marcelo Rebelo de Sousa é candidato à Presidência da República

1. Hoje já não temos qualquer dúvida: Marcelo Rebelo de Sousa é candidato às eleições presidenciais que se realizam no próximo mês de Janeiro. Registando índices de popularidade ímpares entre os políticos portugueses, Marcelo Rebelo de Sousa parte em clara vantagem para a contenda eleitoral. Os detalhes da candidatura têm sido ultimados discretamente – embora…

2. O ex-líder do PSD avançou na passada segunda-feira, em directo na TVI, que já ponderou tudo o que havia a ponderar e já tinha tomado uma decisão. E a decisão é clara: independentemente da decisão que for tomada por Rui Rio, Marcelo é candidato seguramente. Aliás, a ida de Marcelo à TVI na segunda –feira – embora já estivesse prevista no alinhamento da estação e tem sido uma prática habitual no rescaldo de eleições, que se realizam invariavelmente aos domingos e, por conseguinte, os comentários de Marcelo são adiados para o dia seguinte – a verdade é que foi a forma subtil de Marcelo marcar o seu espaço político subtilmente. Os militantes do PSD e os seus dirigentes, muitos deles ligados a Pedro Passos Coelho, ansiavam (quase desesperavam) por um sinal positivo de Marcelo Rebelo de Sousa – e Marcelo sabia perfeitamente que o seu silêncio, prolongado nos dias seguintes às legislativas, poderia ser contraproducente. Então, Marcelo, de forma subtil e muito perspicaz, dá um sinal ao partido e ao país – já ponderou e decidiu tudo, ou seja, é candidato. Analisando a personalidade de Marcelo Rebelo de Sousa, se da sua ponderação resultasse a decisão de não candidatura, tê-lo-ia anunciado na segunda-feira, matando qualquer especulação sobre o seu avanço para Belém. Não o fazendo, e dizendo que a sua ponderação já terminou, Marcelo Rebelo de Sousa confirmou oficialmente que é candidato.

3. Resta, pois, a questão central: quando Marcelo anunciará, preto no branco, sem rodeios, a sua candidatura? Quando haverá o lançamento formal da candidatura – perguntam milhões de portugueses. Há duas teses: a tese de que o anúncio ocorrerá na próxima semana; e a tese de que o anúncio será feito na próxima semana ou na semana seguinte. O que dizer? Quanto a nós, a segunda tese tem razão. Porquê? Fácil.

Marcelo Rebelo de Sousa pretende despedir-se, em directo, dos seus comentários semanais na TVI – ora, se Marcelo avançasse esta semana, já não poderia (até pelo princípio que advoga desde sempre de não confundir o seu papel de comentador com o seu papel de protagonista político) fazer o seu programa no próximo domingo. E há uma probabilidade muito forte de o seu próximo programa de Marcelo ser o seu último: não por acaso, a TVI já procura uma alternativa para a sua programação de domingo. Donde, Marcelo Rebelo de Sousa anunciará a sua candidatura na próxima semana ou no início da semana seguinte. A sua decisão derradeira dependerá, também, das contingências de formação do próximo Governo.

4. Com efeito, imagine-se que o Governo é formado para a semana: Marcelo Rebelo de Sousa, enquanto comentador e fazendo o que é habitual, teria de comentar os nomes dos vários Ministros que constituem o novo Governo. Ora, com que cara Marcelo iria comentar os ministros do próximo Governo, sendo na segunda-feira de manhã candidato a Belém – e futuro Presidente da República de Portugal que teria de se relacionar, por dever de ofício, com esses mesmos Ministros? Não faz sentido nenhum. E Marcelo Rebelo de Sousa sabe isto melhor do que ninguém, pelo que, no máximo, só poderá fazer mais um ou dois programas na TVI. Logo, o prazo para o anúncio da sua candidatura está a estreitar-se – e muito.

5. Posto isto, restam duas questões adicionais: quem prepara os detalhes operacionais da candidatura de Marcelo? E terá Marcelo o apoio do PSD? E do CDS/PP? Quanto à primeira questão, a resposta é simples. Marcelo Rebelo de Sousa, para preparar os aspectos logísticos da campanha, conta com uma troika constituída por Luís Marques Mendes, Rodrigo Moita de Deus e Miguel Relvas. Vejamo-los um a um. Bom, quanto a Marques Mendes são dispensadas notas biográficas desenvolvidas – este é um político com larga experiência, é o segundo comentador político com mais audiência (curiosamente, a seguir a Marcelo) e é um operacional, para além de pensar política muito razoavelmente. O segundo, Rodrigo Moita de Deus, é um assessor de comunicação que fundou uma empresa de comunicação (NextPower), muito próximo de Leonor Beleza, que se assume como marcelista, embora já tenha cumulado esse títulos com outros títulos, incluindo com o de passista –e, enfim, é a chamada “eterna jovem promessa” do partido. Uma curiosidade: foi Rodrigo Moita de Deus quem colaborou com Marcelo (e o acompanhou) ao Congresso do PSD em Mafra em 2010, naquela que foi a primeira intervenção de Marcelo após um longo interregno de presenças em congressos do partido.

6. Depois, temos Miguel Relvas, segundo vários órgãos de comunicação social – com destaque para o Expresso – o homem que tem preparado a máquina da candidatura de Marcelo. Confessamos que este é o homem que nos surpreende mais: Miguel Relvas está politicamente muito desgastado e não faz ganhar votos – pelo contrário, faz perder votos. Três razões explicam a colaboração por conveniência entre Marcelo Rebelo de Sousa e Miguel Relvas:

i) Marcelo está a precaver-se para o cenário de o PSD não o apoiar. Neste cenário, Marcelo precisa de uma personalidade do PSD que conheça suficientemente o partido, tenha uma rede de ligações com as distritais e as concelhias sólida e diversificada, que conheça como se prepara, como se organiza e como se financia uma campanha política – esse alguém é Marques Mendes, hoje menos; Miguel Relvas, hoje mais;

ii) Miguel Relvas, no fundo, para os estrategas da candidatura de Marcelo, substitui ou compensa a falta do PSD. Passamos a explicar: Miguel Relvas hoje, com os conhecimentos que tem do passismo, do mendismo, do barrosismo e até de alguns sectores cavaquistas, tem um ascendente sobre o PSD. Conhece muito bem o PSD, mais até do que Marco António, Matos Rosa ou as figuras de proa do PSD actual. Logo, no caso de o PSD dar liberdade de voto nas presidenciais (cenário que os mais próximos de Marcelo consideram muito provável), Marcelo precisa de ter uma estrutura que se aproxime, tanto quanto possível, da estrutura partidária: e Miguel Relvas é quase a personificação, nesta visão, do PSD;

iii) Esta é a razão decisiva: Marcelo foi buscar Miguel Relvas para evitar que Miguel Relvas passasse para o lado de Rui Rio. Expliquemos sem rodeios: Miguel Relvas é um sobrevivente político. Miguel Relvas precisa da política – como é sabido, as relações de Miguel Relvas com Passos Coelho azedaram muito. Passos ganhou ao contrário do que muitos julgavam – para Relvas, as presidenciais são uma oportunidade de ouro para voltar à ribalta, exibindo o seu peso partidário, a sua capacidade de influência e o seu talento para ganhar eleições. Miguel Relvas, segundo fontes insuspeitas, já teria mesmo um candidato preparado para suceder a Pedro Passos Coelho na liderança do partido: Luís Montenegro. E, porventura, se Marcelo não o repescasse, Miguel Relvas regressaria à base política natural: o barrosismo, ou seja, apoiando Rui Rio. E Marcelo Rebelo de Sousa entende – inteligentemente- que uma coisa é Rui Rio com Relvas; outra, bem diferente para mais fraco, é Rui Rio sem Miguel Relvas. Mais fraco no plano operacional, entenda-se.

7. Por todas as razões expostas, Marcelo Rebelo de Sousa escolheu Miguel Relvas – espontaneamente ou fruto das circunstâncias políticas, subjectivas e objectivas – para seu operacional logístico da campanha. No que respeita à outra interrogação – será que o PSD e o CDS vão apoiar Marcelo Rebelo de Sousa? – é um tema mais complexo que reclama um prosa autónoma. Aqui a publicaremos nos próximos dias.

8. Retenhamos: não há dúvidas, os portugueses vão ter Marcelo Rebelo de Sousa como candidato a Belém. Na próxima semana ou na seguinte. Como todos podem constatar, não obstante a admiração e a estima que temos por Marcelo Rebelo de Sousa, aqui fui e sou completamente imparcial e racional na análise efectuada. Uma coisa é o apoiante; outra é o comentador político. São realidades diferentes e completamente autónomas, embora julguemos que Marcelo será o próximo Presidente. Assim como não temos dúvidas de que a candidatura de Marcelo Rebelo de Sousa é uma boa notícia para Portugal e para os portugueses.

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